Tal como o sol, a água quando nasce é para todos! (V e VI)

Afinal, em que ficamos? Foram 29 ou 40 milhões? E de onde veio o dinheiro, se o financiamento à banca era proibido? Mais – 22 milhões e 575 mil dos fundos de coesão + 22 milhões e 250 mil, não são 40, mas quase 45 milhões! Se o custo total que serviu de base à candidatura eram 29 milhões, seiscentos e dez mil, para onde foram os mais de 15 milhões de euros?

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  • 10:58 | Sexta-feira, 28 de Março de 2025
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CAPÍTULO V

Não se pode mudar o passado, mas conhecê-lo pode ajudar a moldar o futuro.

 


 

Lembremo-nos de 2007. No quadro acima, e porque a comunicação pela imagem é mais eficaz do que as palavras, podemos verificar quais os partidos que dominavam em cada uma das 5 parcelas de território, também de forma proporcional, consequência das eleições autárquicas de 2005. A cor laranja ganhou 3 x 2 em lideranças, mais que isso, esses 3 concelhos representavam cerca de 70% da população, enquanto a cor rosa se ficava por 30% da população da área da concessão.  Estes dados, dirão uns, não fazem sentido, são políticos … claro que são. Tenho o mesmo direito de fazer política com isto, como aqueles que nos usaram para fazer a sua política! Talvez mais, até, porque fazer política para todos é muito mais legítimo que fazer a política para alguns…

Na tranquilidade dos anjos, o tempo corria para 2009, enquanto todos os autarcas se esmeravam a fazer aquilo que não foi feito, agora com dinheiro fresco para pagar as festas, festinhas e festivais. Para esticar o alcatrão até à porta dos amigos e para pagar os bolos com que se enganam os tolos. Era ano de eleições autárquicas. E tudo correu como o previsto – no espetro eleitoral, nada mudou, nem as caras, nem os partidos. Afinal, cada edil se esgadanhou para defender a cadeira; era, para quase todos, o fim do prazo de validade imposto pela limitação de mandatos.

Valeu a pena. Valeu a pena aquela adenda. Quem vier a seguir, que apague a luz e feche a porta, terão sussurrado eles, entre cínicos sorrisos.

Com o aproximar do dia 11 de outubro, que recebia o ato eleitoral, uma das maiores e mais ilícitas caganças da pré-campanha eleitoral, vejam lá, na minha terra, em Mosteiro de Fráguas. Estávamos em 28 de agosto de 2009 – o dia da grande farra, da consagração da inverdade e do descaramento, uma orgia de populismo sem fronteiras. Com a presença da comunicação social local escrita e falada, também a Dão TV, uma televisão regional, gravou tudo e ainda bem. Gravou todas as vaidades e heresias. As margens da barragem pareciam competir com cenas das hollywoodescas festas à beira das piscinas, como nos mostram nos filmes de gangs endinheirados.

Afinal, em que ficamos? Foram 29 ou 40 milhões? E de onde veio o dinheiro, se o financiamento à banca era proibido? Mais – 22 milhões e 575 mil dos fundos de coesão + 22 milhões e 250 mil, não são 40, mas quase 45 milhões! Se o custo total que serviu de base à candidatura eram 29 milhões, seiscentos e dez mil, para onde foram os mais de 15 milhões de euros? (Se as contas não estiverem certas, peço a algum professor de matemática que se pronuncie)

Vamos com calma, depressa e bem, não há quem! …

 

CAPÍTULO VI

 

Mosteiro de Fráguas, 28 de agosto de 2009.

Aproxima-se o período de campanha eleitoral para as autarquias. Nada mais oportuno que a Inauguração da Barragem do Paul, onde não faltaram as fotos e os microfones.

O edil anfitrião, investido da função presidente do Conselho Executivo da AMRB, disse:

– “Do investimento que aqui está feito nesta freguesia, cerca de 40 milhões de euros, 8 milhões de contos (não fossem as pessoas incapazes de imaginar tamanha fortuna em moeda criada “apenas” há 8 anos), uma parte significativa foi financiada por Fundos de Coesão e os restantes 20% financiados EM EXCLUSIVO (a ênfase não é minha), pelos 5 municípios! …..

… Foi possível tudo isto pela EXCECIONAL colaboração, AMIZADE e respeito institucional dos 5 presidentes de câmara…”

No Capítulo anterior, levantei a dúvida sobre os verdadeiros valores do investimento, da eventual comparticipação dos municípios e da falta de explicação da origem do dinheiro. Na verdade, as contas não batem certo, aliás, nunca bateram certas.

Mas ninguém, à data, se preocupou com isso. O importante era a garantir qualidade da água, a prevenção de efeitos de mais prolongadas faltas de pluviosidade. O abastecimento doméstico de água era pago a custos, não os melhores, mas aceitáveis, e às freguesias rurais, dado poucas terem acesso a água canalizada, nem lhes fazia muita diferença – os fregueses, abandonados à sua sorte, já tinham investido em furos artesianos para seu autoabastecimento do precioso líquido.

Do início da concessão até à inauguração, passou uma década. Ainda sob o efeito de placebos (medicamento sem propriedades terapêuticas, mas que ajudam nalgumas doenças, iludindo-as), cá estávamos felizes e contentes, à espera do dia das eleições, uns, desejando a continuidade, outros, na expetativa de alguma mudança.

Por hoje, supostamente o dia da inauguração, mas porque estamos em período de pré-campanha, não posso adiantar mais nada, é proibido, por lei, enaltecer ou criticar, embora muitos apenas respeitem as (suas) regras.

No próximo capítulo, terminado o processo de escolhas, talvez amanhã, já possa fazer aquecer o ambiente. Até porque vivemos os primeiros dias desta Primavera!

Desculpem a ironia, mas é a melhor forma de encarar o engodo com que nos brindaram durante quase 2 décadas …

(CONTINUA)

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