STOP à guerra e à desumanização da Europa

Esta aristocrata serôdia da direita europeia, aliada do genocida Netanyahu, tenta atenuar a sua aliança com a extrema-direita com o argumento de que há uma diferença substancial entre os dois grupos: o ID é pró-Putin e anti-UE e o ECR é pró-Ucrânia e pró-UE. Ora, estas nuances são mais de ordem táctica do que ideológica, como se comprova com as pressões, incluindo do candidato do Chega, para a fusão entre os dois grupos reaccionários e neo-fascistas.

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  • 22:45 | Quinta-feira, 06 de Junho de 2024
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“O que é que as eleições para o Parlamento Europeu contribuem para a nossa felicidade?” – perguntarão muitos dos habituais abstencionistas. Embora este Parlamento não tenha efectivos poderes legislativos, pode convidar a Comissão (cuja presidente é por si eleita e os comissários por si aprovados) a propor legislação sobre o seu programa de trabalho, decide sobre acordos internacionais e alargamentos e tem poderes de supervisão sobre todas as instituições da UE. O problema é que a abstenção ou o voto incauto por impulso populista pode, ainda que ingenuamente, contribuir para a nossa infelicidade…ou a dos nossos filhos e netos.

As sondagens para as eleições europeias dão uma subida muito acentuada dos dois grupos da extrema-direita, o ID (onde o Chega pretende incluir-se, e tem a Liga de Salvini, entre outros admiradores de Putin; o AfD acaba de ser expulso por branqueamento da participação de alemães nas SS nazis) e o ECR (inclui o Irmãos de Itália e o Vox).

Na França e na Alemanha os partidos de extrema-direita (o RN de Le Pen e o AfD) surgem em segundo lugar nas sondagens. O AfD, nas sondagens para as legislativas de 2025 na Alemanha, também aparece em segundo, embora já esteja a descer. Os Irmãos de Itália diziam-se herdeiros de Mussolini e agora a sua líder, Meloni, primeira-ministra, esforça-se camaleonicamente por moderar um pouco a linguagem com o objectivo de “controlar a União Europeia”. Já conseguiu uma aliança com o PPE da “euro-cínica” Ursula von der Leyen. Esta aristocrata serôdia da direita europeia, aliada do genocida Netanyahu, tenta atenuar a sua aliança com a extrema-direita com o argumento de que há uma diferença substancial entre os dois grupos: o ID é pró-Putin e anti-UE e o ECR é pró-Ucrânia e pró-UE. Ora, estas nuances são mais de ordem táctica do que ideológica, como se comprova com as pressões, incluindo do candidato do Chega, para a fusão entre os dois grupos reaccionários e neo-fascistas.


Os partidos europeus hegemónicos, da direita (o PPE, que inclui o PSD e o CDS) ao centro (do S&D, a família do PS, que não é socialista, nem já tão pouco social-democrata, quando muito social-liberal), impuseram a austeridade, privatizações e ataques ao Estado Social, num processo paulatino de destruição dos direitos sociais e laborais, conquistados com a luta dos trabalhadores, dos seus sindicatos e dos partidos de esquerda.

Com muitos séculos de saques, escravatura e colonizações, o capitalismo, selvagem por natureza, após derrotar as primeiras experiências socialistas na Europa (que não tiveram o mesmo tempo para acumular capital, sem esses meios de exploração dos povos, apesar de terem alcançado uma maior igualdade social), na ausência de alternativas visíveis, foi deitando borda fora o Estado Social e a social democracia, descartáveis tampões, respectivamente, ao aumento incomportável da miséria e do alastrar mundial das ideias socialistas. A globalização neoliberal levou à crise global do sistema financeiro. Os povos foram forçados a pagar a falência dos bancos com mais austeridade, precariedade laboral e mais pobreza.

Hoje, vemos os governos europeus, aliados dos interesses imperialistas dos EUA e da NATO (a quem devemos o apoio à ditadura mais longa da Europa, a do Estado Novo), a embarcar numa corrida armamentista, que só serve a indústria militar dos EUA, da França e da Alemanha, e agrava a crise sócio-económica, em vez de tudo fazerem para promover negociações sérias entre os dois contendores, a Rússia e a Ucrânia, que conduzam a um acordo de paz, em consonância com as leis internacionais e o direito dos povos à sua auto-determinação, de modo a pôr fim à criminosa invasão de Putin e à guerra civil que já dura há 10 anos no Donbass, com dezenas de milhares de mortos.

Os governos europeus foram todos cúmplices, por acção ou omissão, do genocídio dos palestinianos. A ONU, através da FAO (agência para a Alimentação e a Agricultura) e do Programa Alimentar Mundial, acaba de alertar que mais de metade da população de Gaza pode enfrentar a fome e a morte “até meados de Julho”, para além dos 36.000 mortos (70% mulheres e crianças).

Tal como os EUA e Israel, também a França e Alemanha perseguiram e prenderam manifestantes pró-palestinianos, despediram professores universitários, proibiram manifestações e cancelaram conferências, violando as liberdades de expressão e de manifestação. A Alemanha (governada por uma coligação de social-democratas, liberais e verdes) é o 2º maior fornecedor de armas de Israel, a seguir aos EUA. O Pacto Europeu para a Migração e Asilo, recentemente aprovado, já foi denunciado por 80 organizações de Direitos Humanos, como a Amnistia Internacional e a Oxfam, por abrir a porta ao racismo, detenções arbitrárias e deportações forçadas (até de crianças).

Só a esquerda (etiquetada, pela direita e pelo centro, de “extrema” ou “radical”, para criar uma falsa simetria que normalize a extrema-direita racista e neofascista) pode impedir a degradação das condições de vida das populações e a “economia de guerra” já em curso para “alavancar” o desenvolvimento económico através da indústria militar (directiva de van der Leyen que entusiasmou os luso vassalos, do CH ao PS, passando pela AD e IL) e impedir a guerra, a desumanização e a fascização da Europa.

A nossa guerra, de Portugal e da Europa, é a guerra contra as alterações climáticas que já estão a colocar em risco de não retorno a sustentabilidade ambiental do nosso Planeta e a sobrevivência, num futuro mais ou menos próximo, da própria Humanidade, como têm alertado os cientistas e o secretário-Geral da ONU, António Guterres.

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Publicado em Opinião