“O que é que as eleições para o Parlamento Europeu contribuem para a nossa felicidade?” – perguntarão muitos dos habituais abstencionistas. Embora este Parlamento não tenha efectivos poderes legislativos, pode convidar a Comissão (cuja presidente é por si eleita e os comissários por si aprovados) a propor legislação sobre o seu programa de trabalho, decide sobre acordos internacionais e alargamentos e tem poderes de supervisão sobre todas as instituições da UE. O problema é que a abstenção ou o voto incauto por impulso populista pode, ainda que ingenuamente, contribuir para a nossa infelicidade…ou a dos nossos filhos e netos.
As sondagens para as eleições europeias dão uma subida muito acentuada dos dois grupos da extrema-direita, o ID (onde o Chega pretende incluir-se, e tem a Liga de Salvini, entre outros admiradores de Putin; o AfD acaba de ser expulso por branqueamento da participação de alemães nas SS nazis) e o ECR (inclui o Irmãos de Itália e o Vox).
Na França e na Alemanha os partidos de extrema-direita (o RN de Le Pen e o AfD) surgem em segundo lugar nas sondagens. O AfD, nas sondagens para as legislativas de 2025 na Alemanha, também aparece em segundo, embora já esteja a descer. Os Irmãos de Itália diziam-se herdeiros de Mussolini e agora a sua líder, Meloni, primeira-ministra, esforça-se camaleonicamente por moderar um pouco a linguagem com o objectivo de “controlar a União Europeia”. Já conseguiu uma aliança com o PPE da “euro-cínica” Ursula von der Leyen. Esta aristocrata serôdia da direita europeia, aliada do genocida Netanyahu, tenta atenuar a sua aliança com a extrema-direita com o argumento de que há uma diferença substancial entre os dois grupos: o ID é pró-Putin e anti-UE e o ECR é pró-Ucrânia e pró-UE. Ora, estas nuances são mais de ordem táctica do que ideológica, como se comprova com as pressões, incluindo do candidato do Chega, para a fusão entre os dois grupos reaccionários e neo-fascistas.
Com muitos séculos de saques, escravatura e colonizações, o capitalismo, selvagem por natureza, após derrotar as primeiras experiências socialistas na Europa (que não tiveram o mesmo tempo para acumular capital, sem esses meios de exploração dos povos, apesar de terem alcançado uma maior igualdade social), na ausência de alternativas visíveis, foi deitando borda fora o Estado Social e a social democracia, descartáveis tampões, respectivamente, ao aumento incomportável da miséria e do alastrar mundial das ideias socialistas. A globalização neoliberal levou à crise global do sistema financeiro. Os povos foram forçados a pagar a falência dos bancos com mais austeridade, precariedade laboral e mais pobreza.
Hoje, vemos os governos europeus, aliados dos interesses imperialistas dos EUA e da NATO (a quem devemos o apoio à ditadura mais longa da Europa, a do Estado Novo), a embarcar numa corrida armamentista, que só serve a indústria militar dos EUA, da França e da Alemanha, e agrava a crise sócio-económica, em vez de tudo fazerem para promover negociações sérias entre os dois contendores, a Rússia e a Ucrânia, que conduzam a um acordo de paz, em consonância com as leis internacionais e o direito dos povos à sua auto-determinação, de modo a pôr fim à criminosa invasão de Putin e à guerra civil que já dura há 10 anos no Donbass, com dezenas de milhares de mortos.
Os governos europeus foram todos cúmplices, por acção ou omissão, do genocídio dos palestinianos. A ONU, através da FAO (agência para a Alimentação e a Agricultura) e do Programa Alimentar Mundial, acaba de alertar que mais de metade da população de Gaza pode enfrentar a fome e a morte “até meados de Julho”, para além dos 36.000 mortos (70% mulheres e crianças).
Só a esquerda (etiquetada, pela direita e pelo centro, de “extrema” ou “radical”, para criar uma falsa simetria que normalize a extrema-direita racista e neofascista) pode impedir a degradação das condições de vida das populações e a “economia de guerra” já em curso para “alavancar” o desenvolvimento económico através da indústria militar (directiva de van der Leyen que entusiasmou os luso vassalos, do CH ao PS, passando pela AD e IL) e impedir a guerra, a desumanização e a fascização da Europa.
A nossa guerra, de Portugal e da Europa, é a guerra contra as alterações climáticas que já estão a colocar em risco de não retorno a sustentabilidade ambiental do nosso Planeta e a sobrevivência, num futuro mais ou menos próximo, da própria Humanidade, como têm alertado os cientistas e o secretário-Geral da ONU, António Guterres.