Era uma vez uma família cigana, que como tantas outras vendia nas feiras. Já tinham vendido um pouco de tudo. Começaram por roupa para vestir, depois atoalhados, a seguir passaram para a perfumaria, até à roupa de marca contrafeita. Um percurso de altos e baixos, conforme a procura.
Os expoentes máximos das vendas aconteciam nos meses de Julho, Agosto e Dezembro. A Ford Transit branca e gasta pelo uso até foi substituída por uma Vito, também branca, mas nova e que andava na mecha.
— Olha Imanuéli, sonhê que ia para o Novo Banco e ia vender aquelas propriedades todas que eles têm para lá. Imanuéli disse-lhe então: — Ó homê, tu na te metas nisso, que isso é coisa para engravatados e estudados. — Imanuéli, eu sê que fiz o 9.° ano nas novas oportunidades, mas olha que tomar conta daquilo não deve ser difícil. Tu podes vender tudo ao desbarato, como se tivéssemos na feira, mas ali nunca temos prejuízo. — Atão home, pode lá ser! — É verdade, tu vendes as propriedades com prejuízo, têm lá um fundo que cobre os prejuízos, pagam-te bem para fazer isso e ainda recebes prémios e dizem que tens uma grande tola, e sabes mesmo de negócios. — E Manéli, nã sei se vais ser CEO ou se chegaste ao céu. — Ainda dizem que os ciganos somos nós…