Por toda a Europa está a verificar-se uma preocupante subida eleitoral da extrema-direita racista e xenófoba. O mesmo nos EUA, onde Trump e os neoconservadores populistas do Partido Republicano (embora os governos dos “democratas” sejam tão ou mais belicistas e criminosos de guerra, como se está a ver no Médio Oriente) continuam a ameaçar o já de si frágil sistema democrático. O fenómeno não é novo, mas Portugal parecia imune a tal vírus, até que o Chega entrou no Parlamento e tem vindo a subir de votação de eleição para eleição. Nos Açores, o PSD pretende entalar o PS ao atirar-lhe com o ónus de uma possível acordo de governo com o Chega. A ver vamos…
Um estudo encomendado pelo “European Council on Foreign Relations” prevê que, pela primeira vez desde que há Parlamento Europeu, a extrema-direita poderá, este ano, subir de votação e formar maioria com a direita, conseguindo bloquear decisões para combater as alterações climáticas e fazer aprovar medidas ainda mais atentatórias dos direitos humanos dos imigrantes, do que as que a direita e o centro já aprovaram cedendo às pressões desses partidos populistas, herdeiros do fascismo e do nazismo. André Ventura é amigo de alguns desses neofascistas e, segundo a Euronews, tem tido reuniões com Marine Le Pen e Salvini.
No passado dia 3 de Fevereiro, uma organização liderada pelo nazi Mário Machado, convocou uma “manifestação contra a islamização da Europa” que a Câmara Municipal de Lisboa proibiu de se fazer no espaço indicado, após receber da PSP uma recomendação a alertar para o perigo de provocações e confrontação com os pacíficos imigrantes residentes e comerciantes nas ruas da Mouraria e do Martim Moniz. É lamentável que uma manifestação de um movimento explicitamente fascista e de ódio racial e religioso, não tenha sido completamente proibida, de acordo com a Constituição da República. Tal como é inadmissível que agentes da polícia tenham agredido manifestantes anti-fascistas e dois jornalistas devidamente identificados como tal, e que ainda por cima se tenham recusado a identificar-se, como é de lei.
Uma investigação do Projecto Global Contra o Ódio e o Extremismo, uma ONG dos EUA, que monitoriza a extrema-direita pelo mundo, revelou que havia razões de preocupação com a marcha por ser composta por neonazis, skinheads e Hammerskins, à mistura com apoiantes e ex-apoiantes do Chega.
No passado dia 6, Mário Machado começou a ser julgado por crimes de discriminação e incitamento ao ódio e à violência, com troca de mensagens sugerindo a “prostituição forçada” de mulheres do Bloco de Esquerda, do MAS, do PCP, do MRPP e do PS. Machado já foi condenado a penas de prisão efectiva em vários processos por crimes de discriminação racial, ofensas corporais, sequestro e posse de armas proibidas e participou na planeada “caça aos pretos” que, em 1995, levou ao selvagem assassinato do jovem cabo-verdeano, Alcindo Monteiro. Afinal a marcha dos neonazis não teve mais do que 50 participantes, segundo a CNN. Já o arraial multicultural que teve lugar no mesmo dia, no largo do Intendente, reuniu mais de mil pessoas, portugueses e imigrantes.
Em Viseu, os neonazis também puseram o nariz de fora, colocando uma faixa preta à volta da estátua de Viriato, com os dizeres: “Não sois bem vindos” e assinado “1143”, o movimento do criminoso Machado. Claro que não durou muito tempo. A maioria das pessoas não terão percebido o sentido daquilo. Seria para os romanos?.. Ou para os turistas que fossem visitar a Cava de Viriato, monumento nacional e o maior monumento da Península?…
Não há raças, do ponto de vista biológico, e muito menos “raças puras” nos humanos. Os árabes e os berberes enriqueceram a nossa cultura e a nossa língua com inúmeras palavras e topónimos arábicos ou de influência arábica (só nas regiões a norte do Douro, temos 65 topónimos e em Viseu e Lamego há pelo menos 25 topónimos), rastreados em documentos medievais, segundo o historiador António Borges Coelho. Recomendo-lhes a leitura do livro do historiador Sérgio Luís de Carvalho, “Lisboa Árabe – Uma viagem maravilhosa por um legado com mais de mil anos de História”.
Há cerca de um mês, passei pela Rua Formosa, em Viseu, onde o Chega tinha montado uma tenda de propaganda, com gravações de Ventura a vociferar contra os imigrantes que vêm tomar o emprego dos portugueses e a criticar o governo por abrir as portas a quem vem para Portugal para viver de subsídios. A mesma conversa que lemos numa entrevista no Jornal do Centro, ao candidato deste partido, cabeça de lista por Viseu. Ora, tudo isto não passa de banha da cobra de charlatães ignorantes e mentirosos. Uma extensa reportagem do Expresso do dia 2 deste mês, junto de empresários de várias áreas económicas (restauração, limpeza, pesca, agricultura, construção civil, transportes, lares) mostra à saciedade, que sem os imigrantes a economia do nosso país soçobraria e as empresas entrariam em colapso. E não estão a tirar o emprego a ninguém, na medida em que não há portugueses no desemprego que os possam substituir, sobretudo nos sectores mais duros e perigosos, mais mal pagos e precários. E não venham dizer que alguns portugueses não querem trabalhar e preferem viver do Rendimento Social de Inserção, como tenho ouvido, porque esses charlatães não quereriam viver com os míseros 209 euros de RSI por cada titular e 146,38 euros pelo outro adulto do casal (valores de 2023). A média por cada agregado é de 284,06 euros por mês. Gostava de ver Ventura a viver com isso. De resto, só existem 181.329 beneficiários do RSI e o seu número tem vindo a reduzir-se.
A Europa, afectada por uma queda demográfica, precisa de muitos milhões de trabalhadores imigrantes. Assim os governos se preocupem menos em gastar dinheiro com guerras e se decidam a contribuir para a paz entre os povos e a reduzir as desigualdades sociais que estão a provocar a revolta de agricultores e de muitos outros trabalhadores afectados por este capitalismo neoliberal cada vez mais selvagem e destruidor da natureza. São esses grandes capitalistas e especuladores financeiros que acumulam cada vez mais lucros e concentram a riqueza mundial em cada vez menos mãos, que apoiam e financiam a extrema-direita em todo o mundo, como se vê, por exemplo, em Portugal com alguns dos maiores financiadores do Chega.