Na perspectiva alemã, a Batalha de Estalinegrado deveria ter conduzido à aniquilação da cidade.
A população masculina, com um espírito irremediavelmente comunista, seria exterminada, e a feminina deportada. Isto equivalia, por alto, à morte de 500 000 homens e à deportação de 500 000 mulheres.
Mas aquilo que Hitler pensava ser rápido, demorou. Os combates adquiriram uma violência extrema. Aos soviéticos, restava resistir ou morrer. No dia 10 de Janeiro, lançaram um ataque ao exército alemão. Em princípio de Novembro, Hitler proclamara que Estalinegrado estava «praticamente em nosso poder».
Sessenta dias depois, não conseguindo conquistá-la, começou a perdê-la, depois a perder o exército que a devia ter conquistado e, por fim, a destruir a Alemanha que a sua psicopatia imaginara majestática.
Salazar sabia disto. Depois de tratar das courelas do Vimieiro e de acrescentar as suas propriedades com mais cento e cinquenta metros quadrados de terreno, enfrentou, em Lisboa, uma vaga de greves e de perturbações sociais que pareciam ameaçar o governo, mas foram reprimidas com firmeza.
Os factos da guerra não lhe passavam despercebidos e até adquiriam um novo realce quando os ministros do Reino Unido e dos Estados Unidos da América solicitaram audiências para a uma hora da madrugada de 8 de Novembro.
Estava em curso um desembarque de grande dimensão no norte de África. Salazar recebeu uma carta de Churchill garantindo o respeito pelos territórios portugueses.
No dia 12, o embaixador Armindo Monteiro foi entregar a Churchill a carta de resposta de Salazar. Escutou-o. «Com os nazis», disse o primeiro-ministro britânico, «não há transacção. Só há derrota total.» A «experiência será tão dura», insistiu ele, «que, no futuro, os que tentarem empresa igual à que levou o mundo até às misérias de hoje, hão-de pôr os olhos no epílogo desta aventura alemã. E hão-de recuar diante de destino igual.»
Nuno Rosmaninho