Sexualidade e afeto em pessoas com Alzheimer
A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) publicou um trabalho muito interessante intitulado A Sexualidade dos Portugueses, da autoria da socióloga Sofia Aboim, enriquecendo o espólio da coleção Ensaios da Fundação. O ensaio reflete “ A libertação das mulheres e a revolução trazida pela pílula contraceptiva, o questionamento da tradicional dominação masculina, o surgimento das lutas […]
A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) publicou um trabalho muito interessante intitulado A Sexualidade dos Portugueses, da autoria da socióloga Sofia Aboim, enriquecendo o espólio da coleção Ensaios da Fundação.
O ensaio reflete “ A libertação das mulheres e a revolução trazida pela pílula contraceptiva, o questionamento da tradicional dominação masculina, o surgimento das lutas pelos direitos das pessoas não heterossexuais impõem uma redefinição mais plural das sexualidades.”
A “revolução sexual”, iniciada na segunda metade do século XX continua a fazer-se.
Contudo, há tabus e mitos que subsistem e ganham um relevo maior quando estão em causa os nossos seniores e mais ainda quando existem doenças, como é o caso do Alzheimer. Embora existam poucos estudos sobre o comportamento sexual dos idosos, considera-se que “A atividade sexual é um importante fator para o bem-estar e para a qualidade de vida“ (Lindau et al. (2007), A study of sexuality and health among older adults in the United States).
A FMNS publicou também um interessante trabalho, coordenado por Manuel Villaverde Cabral, que analisa o fenómeno do envelhecimento: Processos de Envelhecimento em Portugal: usos do tempo, redes sociais e condições de vida. No que concerne à importância e prática da sexualidade, “Em Portugal, mais de metade dos inquiridos com 50 anos ou mais assume que o sexo é importante ou muito importante nas suas vidas”.
Quando está em causa a sexualidade de pessoas que vivem com a doença de Alzheimer ou outras demências, os constrangimentos são múltiplos e multifatoriais. O que deve fazer a (o) parceira (o)? Como devem intervir os técnicos em caso de institucionalização? Como reage a família? As atitudes poderão extremar-se entre a “erotofilia” ou a “erotofobia”. Considerando o aumento significativo do número de pessoas que padecem desta enfermidade, julgo ser útil refletir e procurar caminhos que permitam o bem-estar de todos, minimizando os constrangimentos. Para que percebamos a complexidade da questão, segundo o Felix Sanchez, Catedrático de Psicologia da Sexualidade da Universidade de Salamanca, no que concerne aos modelos de intervenção dos profissionais, há quatro modelos bem distintos de abordagem: O Modelo Moral; O Modelo de Riscos; O Modelo Prescritivo e o Modelo Biográfico e Profissional. A “revolução” está em curso, mas ainda há muito caminho para ser trilhado e que carece de um novo olhar. Não nos esqueçamos que, segundo dados do EUROSTAT, três em cada dez pessoas terão 65 ou mais anos em 2050. Arrisco-me a apontar a “ética do consentimento” como um bom pressuposto para que possamos viver melhor durante mais tempo.