Saúde ocupacional – antecipando tendências

Além de problemas de saúde mental, o capital humano será cada vez mais afetado por stress prolongado, daí resultando doenças cardiovasculares ou lesões músculo-esqueléticas,  entre outras.

  • 17:49 | Sexta-feira, 10 de Fevereiro de 2017
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A nova economia incorpora essencialmente pessoas inseridas em ambientes de incerteza e mudança.

Os últimos dados do I.N.E. revelam que as organizações nacionais quando investem, fazem-no com alguma desconfiança e também que o emprego precário cresceu ao ritmo mais acelerado desde 2012.

Falar de mudança em ambiente de grande incerteza é falar de sustentabilidade, adaptação, evolução, aprendizagem e crescimento. É falar das forças que estão a alterar cada vez mais a dinâmica de evolução competitiva das organizações, forçadas a reinventarem-se. E sabemos que quem protagoniza a inovação é o capital humano que também necessita de adaptar-se.


Se por um lado, as empresas, fruto do ambiente mais competitivo, têm uma esperança média de existência cada vez menor, por outro,  a esperança média de vida da população (portuguesa) transitou, dos 62 anos para os 80 anos.

O conceito de sustentabilidade já não se restringe ao meio ambiente. Também por isso, o marketing oferece experiências mais personalizadas através do conceito H2H “human to human” que enfatiza o envolvimento das  pessoas (sejam clientes, fornecedores ou “stakeholder” / intervenientes) nos processos. As pessoasos  têm emoções e são cada vez mais confrontadas com mudanças disruptivas,  incertezas e imprevisibilidade, necessitando de adaptação e não se fixando apenas num “mindset” .

Ora se as mudanças são inevitáveis e incontornaveis, também o são as cargas de trabalho excessivas, o horário flexível, as exigências contraditórias e a falta de clareza na definição das funções. Não raras vezes, também a falta de participação na tomada de decisões   afeta as pessoas, bem como a falta de controlo sobre a forma como se executa o trabalho.

Estes são apenas alguns exemplos de condições conducentes a riscos psicossociais como a depressão ou “burnout” / esgotamento / desgaste emocional.

Além de problemas de saúde mental, o capital humano será cada vez mais afetado por stress prolongado, daí resultando doenças cardiovasculares ou lesões músculo-esqueléticas,  entre outras.

Posto isto, perguntamos: Que novos desafios se afiguram para a saúde de pessoas inseridas em organizações e para a economia real ?

Para dar resposta, bastaria a constatação de que cerca de metade dos trabalhadores é afetado pelo stress com impacto na produtividade e isso contribui para cerca de 50% do tempo  de trabalho desperdiçado.

Por isso, para a obtenção de eficiencia e bons resultados, são necessários novos programas de saúde ocupacional que estejam contemplados no dispositivo legal e na agenda política, antes da implementação prática nas organizações públicas e privadas.

Mas, prevenir e proteger as pessoas de acidentes e de problemas de saúde não é apenas um dever legal e ético das organizações. Investir na saúde ocupacional é um designio e um sinal de crescimento, qualidade, competitividade e produtividade que permitirá reduzir riscos associados e a obtenção de retorno financeiro a médio prazo. A não observância do respeito pela prevenção primária, acarreta para a economia real, custos significativos, chegando aos milhares de milhões de euros a nível nacional.

As mentalidades não se mudam por decreto. Por isso, para alem da aplicação do imperativo legal, a  gestão de mudanças organizacionais deve incorporar “benchmark” de boas práticas  na saúde ocupacional que induza eficácia funcional, de desempenho e produtividade per capita, sendo necessárias equipas especializadas na otimização do tempo, recursos,  processos de avaliação, formação e aculturação do capital humano. Tudo em prol do desenvolvimento e melhoria contínua da economia, num contexto em que as organizações e trabalhadores são arrastados pelo desafiante vendaval tecnológico e consequente inovação nos modelos de negócios, procurando corresponder aos comportamentos dos cada vez mais exigentes consumidores que também são pessoas.

Para além dos indicadores do I.N.E. e das recomendações da O.I.T. e/ou O.M.S., em Portugal a Ordem dos Psicólogos alerta para a emergência na criação da figura do psicólogo do trabalho e o reforço na aplicação de medidas preventivas nos riscos psicossociais em contexto organizacional.

Não seríamos humanos se não houvesse mudança. E isto é tão mais verdade, numa altura em que é exigido ás pessoas o compromisso de fazerem mais e melhor, por menos.

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Publicado em Opinião