SAÚDE MENTAL DAS RAPARIGAS
Não tenho filhos, mas tenho uma sobrinha que adoro. Tem nove anos, é uma menina feliz, educada, meiga e amiga dos seus amigos. Quando falo com ela, tento saber se está tudo bem na escola e como estão os seus amigos. Nunca lhe pergunto pelas notas dos testes, apenas se gosta do que […]
Não tenho filhos, mas tenho uma sobrinha que adoro. Tem nove anos, é uma menina feliz, educada, meiga e amiga dos seus amigos. Quando falo com ela, tento saber se está tudo bem na escola e como estão os seus amigos. Nunca lhe pergunto pelas notas dos testes, apenas se gosta do que está a aprender… Está com um pouco de peso a mais, já abordei essa questão com a família. São questões, as do corpo, que não podem ser descuradas. Uma amiga preocupa-se porque a filha, adolescente, não quer comer adequadamente…
Recentemente, uma amiga disse-me que estava triste com a filha porque “só teve bom”… Pergunto: “Só teve bom?”. Mas, bom não é bom? Bom é bom, mas o objetivo é atingir o excelente. Opinei, reforçando a ideia de não ter filhos, mas que, caso os tivesse, a minha principal preocupação seria saber se estavam ou não felizes na escola e como se relacionavam com os seus pares. Parou, pensou e afirmou: “Pois, tens razão.”
Não sei se tenho ou não tenho razão, mas tenho uma certeza, é inapropriada a pressão que os pais colocam sobre crianças com apenas 6,7,8,9,10 anos.
Em conversa com outra amiga, mostrou-se apreensiva com alguns comportamentos da sobrinha adolescente, na sua óptica desajustados. Serão? Será uma questão geracional?
As raparigas estão a preocupar mais as suas famílias do que os rapazes?
Candance Currie, especialista em saúde dos adolescentes, e coordenadora internacional nos últimos 20 anos do Health Behaviour in School-Aged Children (HBSC) diz, em entrevista ao Público, que “Devemos preocupar-nos com as raparigas e com a sua saúde mental”.
Os último números sobre Portugal ( Health Behaviour in School-Aged Children, 2014), mostram que um número crescente de adolescentes de sintomas que revelam mal estar. “Quase um terço (30, 6%) das raparigas dizem que se sentem deprimidas contra 18% dos rapazes. A percentagem de meninas que se magoam a si próprias frequentemente, é três vezes maior. E há duas vezes mais raparigas do que rapazes a dizerem que se sentem nervosas e deprimidas.”
Há dois aspectos a merecerem a nossa atenção: os resultados escolares e a relação com o corpo.
Candance Currie informa que as meninas “sentem-se muito pressionada pela escola e pelos trabalhos da escola” e que a sua maior preocupação “poderá estar a contribuir para a deterioração da saúde mental.”
A especialista refere que devemos levar em conta o factor “puberdade”: “As raparigas entram na puberdade mais cedo do que os rapazes. Talvez comecem a pensar nalgumas coisas antes…talvez comecem a achar muito cedo que têm que trabalhar muito para serem bem sucedidas. Talvez estejam a ser demasiado exigentes consigo mesmo desde muito cedo, num mundo muito competitivo em que é preciso ser o melhor.”
O bullying, o ciberbullying, a anorexia, a bulimia e a auto-mutilação têm uma trajetória crescente.
“A percepção do corpo está a piorar imenso. Em Portugal 49,5% das raparigas têm uma boa imagem do seu corpo.”
O culto da juventude e do corpo são duas bandeiras do nosso século.
Atenção: “Se uma rapariga sente que está gorda, sente-se muito pior com isso do que uma rapariga que há dez anos achava que estava gorda.”
Nas redes sociais, proliferam sites que endeusam a magreza extrema! Sites dedicados ao “bikini bridge” (1) e ao “thigh gap” (2) são muito fáceis de encontrar e exercem uma enorme influência nas raparigas adolescentes que, obviamente, querem sentir-se bem ajustadas às tendências em voga.
1 – BIKINI BRIDGE: “Em raparigas muito magras o tecido do bikini não chega a tocar na púbis, fica como que em suspenso nos ossos”.
2 – THIGH GAP: “efeito produzido quando as coxas são muito magras e não se tocam.”