“Rui Caçador: exemplo de desportista e ator cívico!” – Da Escola Comercial e Industrial de Viseu a selecionador nacional

Como treinador integrou a equipa técnica de Carlos Queirós, entre 1989 e 1992, período durante o qual se destaca o título de Vice-Campeão da Europa de Sub-18, na Hungria (1990), e a conquista do Campeonato do Mundo de Sub-20, em Portugal (1991). Foi, ainda, adjunto de Filipe Scolari e selecionador moçambicano – Campeonato Africano das Nações de 1996.

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  • 10:50 | Sexta-feira, 04 de Agosto de 2023
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RUI Manuel dos Santos CAÇADOR, nasceu em Viseu, em 1953 e foi, justamente, nestas terras de Viriato que se começou a destacar com a conquista do Campeonato Nacional de Andebol Escolar (1969/1970), em representação da Escola Industrial e Comercial de Viseu (hoje Escola Secundária Emídio Navarro).

 


 

A posição de guarda-redes em que se destacou, cumpriu sempre os desígnios desportivos do Rui: quer no andebol, quer no futebol, o seu empenho e entrega alinhavam-se plenamente com a sua inteligência.

Como atleta foi, então, guarda-redes da equipa campeã Nacional Andebol Escolar EICV, e no futebol foi guarda-redes do Sport Viseu e Benfica (Juvenis), do Sport Lisboa e Benfica (Campeão Nacional de Juniores em 1971/72), do Académico de Viseu (de 1972 a 1974), do Sport Viseu e Benfica (1974 a 1981) e Instituto Nacional de Educação Física (tricampeão Nacional Universitário).

 

 

Licenciado em Educação Física, integrou durante muitos anos o Departamento Técnico da Federação Portuguesa de Futebol.

Apaixonado pelo desporto, o Rui integrou uma das equipas do Sport Viseu e Benfica que, um pouco contra o que era comum, não deixou os estudos e migrou para Lisboa, a fim de frequentar o Ensino Universitário. Lembramos dessa equipa, João Monteiro, José Amaro, Carlos Jorge, Cartagena, Ferrão, Diogo, Vitó e o Rui são alguns dos atletas que na época se licenciaram. Uma geração que viveu a transição da ditadura para a democracia como estudantes universitários e que os vai marcar em termos sociais e políticos.

Rui Caçador, iniciou a sua carreira no Viseu e Benfica, que sempre foi o clube do seu coração onde foi campeão distrital de juvenis. Nesta época o jornalista Carlos Costa interrogava-se mesmo, porque não era o Rui chamado à seleção nacional portuguesa, uma vez que já era diferenciado.  Nestes tempos Lisboa ficava a muitas horas de Viseu e estes “miúdos” de 15 anos, praticavam várias modalidades: futebol, andebol, voleibol, atletismo, etc.  Algo impensável nos dias de hoje.

Quando foi entrevistado sobre o desporto que mais gostava de praticar, o Keeper viseense confessou: “tenho uma certa predileção pelo futebol, mas vibro mais no decorrer de um jogo de andebol, talvez por ser um desporto que tem necessariamente, como condição primordial, ser disputado num ritmo de maior velocidade”. De certeza que o facto de ser guarda-redes de andebol e jogador de voleibol, contribuiu para que tivesse sido um dos melhores guarda-redes de futebol de então.

Nesta altura frequentava o 3.º ano do Curso Geral do Comércio e quanto ao seu futuro, na altura com 15 anos, mais uma vez se evidenciava a sua sinceridade e modéstia: “os meus projetos desportivos são vagos, quase nulos. Se aparecer alguma oportunidade que me permita não seguir a vida de futebolista profissional, mas sim continuar os meus estudos, aproveitá-la-ei da melhor maneira.”

A verdade é que o Rui acaba por ser contratado pelo Sport Lisboa e Benfica e chega mesmo, como treinador, a selecionador nacional dos sub21. O jovem Rui, que já demonstrava tanta maturidade para a idade, vai percorrer então um trajeto no futebol que, principalmente, enquanto treinador é invejável e lamentavelmente pouco reconhecido.

Rui Caçador, ao serviço do Maxaquene, venceu em 1985 e em 1986 o ‘Moçambola’ (Liga moçambicana de futebol), tornando-se o primeiro técnico luso a conseguir o feito.

Como treinador integrou a equipa técnica de Carlos Queirós, entre 1989 e 1992, período durante o qual se destaca o título de Vice-Campeão da Europa de Sub-18, na Hungria (1990), e a conquista do Campeonato do Mundo de Sub-20, em Portugal (1991). Foi, ainda, adjunto de Filipe Scolari e selecionador moçambicano – Campeonato Africano das Nações de 1996.

Rui Caçador, interessou-se também pela política, tendo sido candidato pelo Partido Socialista à Câmara Municipal de Oeiras e antes do 25 de Abril pertenceu ao MDP/CDE, o que lhe custou a chamada à tropa e isso mudou toda a sua vida: “Soube mais tarde que o meu pai, tipógrafo alentejano a viver em Viseu, onde nasci, era do Partido Comunista na mais pura e dura clandestinidade. Em Viseu não seria fácil ser do PCP.” Ter uma posição partidária, consta-se que o facto de ser de esquerda o prejudicou em termos desportivos.

Em 2002 deu nome a uma Escola de futebol em São Pedro do Sul. A Footlafões – associação académica é pioneira no distrito das escolas de futebol.

Hoje, por motivos graves de saúde, teve de se afastar da atividade e da carreira desportiva, para desgosto seu. Mas Viseu, não pode obliterar um dos seus melhores, e reter um exemplo único de atleta e ator cívico.

 

(Fotos DR)

 

 

 

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