A internacional Socialista (IS), instituição que reúne, no espaço mundial, os partidos socialistas, trabalhistas e sociais-democratas, foi, na segunda metade do século passado, a mais importante força no fazer valer o espírito da liberdade e da democracia em todos os continentes.
Os portugueses sabem bem o papel da IS na consolidação do nosso regime de Abril, no apoio ao PS como partido estruturante da liberdade e, ainda, no processo de adesão à União Europeia.
Nas décadas de 70 e 80 do século passado, a IS teve um papel muito determinante nas diversas tentativas de paz para o Médio Oriente e veio a contribuir, de forma decisiva, para a paz, para a normalização política e para a democracia em muitos dos países africanos.
O seu papel na América Latina foi, de igual modo, muito importante, principalmente nos períodos pós ditaduras militares na Argentina, no Brasil ou no Chile.
A IS assumiu, ainda, uma certa cristalização na leitura sobre os movimentos políticos nos EUA. Clinton trouxe uma nova visão do “espaço do progresso” que se identificava, em muitos dos aspectos, com a visão dos socialistas e sociais democratas europeus. Mas tal aproximação ideológica não foi suficiente para que a esquerda democrática com diversas matizes, dos dois lados do Atlântico, se pudesse entender, usando um escrito comum sobre os princípios.
A eleição de Obama, acentuou, pelas características e origens deste novo protagonista, a visão progressista que os Democratas foram assumindo. A luta pela ideia generosa de um serviço de saúde para todos foi, é, um marco de identificação que não pode ser esquecido por quem sempre teve desconfianças.
O mundo mudou muito com o acelerar da globalização e da sociedade da informação. Nasceram novas redes internacionais de poder, mobilizaram-se interesses pela detenção de espaços de soberania que sempre pertenceram aos Estados, reuniram-se novas seitas políticas que detêm um perfil comum – acabar com a democracia liberal.
As crises dos anos 2007 a 2010, que implicaram em todo o mundo ocidental, fizeram com que as respostas dos governos tivessem sido combatidas pelos cidadãos e tivessem criado fortes divórcios entre estes e as elites dirigentes.
Ao mesmo tempo, o alastrar da corrupção e a má gestão da coisa pública, aspetos que os socialistas e sociais democratas nunca poderiam ter descuidado, fizeram crescer os extremos. No mesmo sentido, as agendas transversais que até ao início do presente século estruturavam a ação dos partidos, deram lugar a agendas de minorias que, tocando aqui e ali e fazendo avançar a sociedade, se esquecem de largos setores da sociedade.
Neste momento, a IS é presidida por Pedro Sánchez. Pensou-se que houvesse a possibilidade de fazer nascer uma nova energia e um novo papel. Mas tal não está a acontecer, nem vai acontecer.
O primeiro ministro espanhol construiu governos que não conseguem ter uma unidade programática e perdem, todos os dias, o espaço político da moderação. Sánchez, ao fazer regressar as duas Espanhas da Guerra Civil, pôs em crise a democracia em evolução permanente que Gonzalez criou nas últimas décadas do século passado.
Mas mais, a sua ação governativa registou um progressivo isolamento pelo facto de ser, não raras vezes, implicada pelo oportunismo da agenda interna e, ainda, pelo PSOE ter vindo a perder o território para manter uma aparência de poder nacional.
No tempo presente, em que precisávamos, mais do que nunca, de uma IS com forte presença no mundo, o que temos é a sua quase inexistência.
O facto de se manterem, quase inalterados, os comités internos, desconhecendo novos movimentos no campo das reformas políticas, sociais e de costumes, o facto de não existir uma forma flexível de gestão da informação e de partilha de ideias de soluções, o facto de não se querer assumir uma visão do socialismo democrático e da social democracia que não tenha uma matriz eurocêntrica, fazem com que se acentue a preocupação com o futuro desta relevante organização internacional.
Está na hora de voltarmos à ação. Aproveitando o tempo em que vamos estar na oposição construindo uma alternativa de governo, deveria Pedro Nuno Santos ganhar para si a afirmação da social democracia nas diversas partes do mundo e neste tempo difícil. Nunca esquecer que os socialistas portugueses mantêm uma enorme capacidade de influência no Mediterrâneo, na África Subsariana e na América Latina. Será, também aqui, que o líder do PS se afirmará.
Ascenso Simões