Na organização que dirijo, Obras Sociais de Viseu, aderimos à “Campanha Primeiros Anos: a Nossa Prioridade” que visa promover uma maior consciência de toda a sociedade sobre a importância dos primeiros anos de vida e dos direitos das crianças no processo de desenvolvimento humano. Os primeiros 1000 dias de vida são determinantes no desenvolvimento saudável. A relação com os pais, os cuidados recebidos, os estímulos, a genética, a alimentação, o ambiente em que se inserem, são alguns dos fatores fulcrais nos primeiros três anos de vida de uma criança.
As nossas crianças estão a viver tempos perturbadores, agravados, desde o dia 24 de fevereiro, pela obscena invasão da Ucrânia pelas tropas russas. “As notícias, as imagens e as conversas sobre a guerra estão por todo o lado. As crianças e os jovens perguntam-se e perguntam sobre o que significam. Os adultos questionam-se sobre o que lhes dizer e como comunicar acerca do assunto.” Este alerta é dado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses que disponibiliza, gratuitamente, um guia excelente “Conversar Sobre a Guerra: perguntas e respostas para pais e cuidadores de crianças e jovens”[1].
Sim, as nossas crianças precisam de uma atenção redobrada, a pandemia e a guerra podem deixar marcas fortes para os futuros adultos. Sabe-se, pelos estudos realizados, que muitos dos problemas de saúde mental dos adultos têm a sua origem na infância ou na adolescência. Cuidemos com amor, razão e critério, não hipotequemos as futuras gerações.
§ O que sente e pensa uma criança que tem que fugir do seu país?
§ O que sente e pensa uma criança que deixa o seu lar, os seus amigos, o seu animal de estimação, os seus brinquedos, as suas roupas?
§ O que sente e pensa uma criança que dá a mão ou vai ao colo da mãe com a roupa do corpo e uma mochila sem “destino”?
§ O que sente e pensa uma criança que se separa do pai que fica a combater o agressor?
§ O que sente e pensa uma criança órfã, entregue à sua sorte e às agressões de um mundo ameaçador?
§ O que sente e pensa uma criança que é vítima de tráfico e violência sexual?
A UNICEFE também afirma que a cada segundo há mais uma criança refugiada, desde que o conflito começou, em 24 de fevereiro. As crianças correm o risco de se separarem das suas famílias ou de serem vítimas de tráfico e violência sexual.
Mais de um milhão de crianças terá fugido da Ucrânia para os países vizinhos. O ataque a uma maternidade, em Mariupol, é algo aterrador, inimaginável, inqualificável. O cenário dantesco, exacerbado pelas urgências da Civilização do Espetáculo (Mario Vargas Llosa), desonra a humanidade.
As crianças ucranianas têm o direito de viver em paz – com as sua famílias e amigos, nas suas casas e no seu país – e de projetar um futuro risonho, no qual possam ser CRIANÇAS.
[1] https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/doc_perguntas_respostas_guerra.pdf
(Foto DR)