11 de Janeiro de 1945: «Já há muitos meses que se ouvia a intervalos o estrondo dos canhões russos, quando, a 11 de Janeiro de 1945, adoeci com escarlatina e fui de novo internado».
18 de Janeiro de 1945: «Na noite da evacuação as cozinhas do campo ainda funcionaram, e na manhã seguinte fez-se na enfermaria a última distribuição de sopa. A instalação central de aquecimento fora abandonada; nas barracas estagnava ainda um pouco de calor, mas a cada hora que passava a temperatura ia baixando, e percebia-se que dentro em breve sofreríamos o frio. Lá fora deviam estar pelo menos 20 graus abaixo de zero: a maioria dos doentes tinha só a camisa, e alguns nem essa sequer.
«Ninguém sabia qual era a nossa condição. Alguns SS tinham ficado, algumas torres de vigia estavam ainda ocupadas.
Por volta do meio-dia um sargento dos SS deu a volta às barracas. Nomeou em cada uma um chefe de barraca, escolhendo-o entre os não judeus que tinham ficado, e dispôs que se fizesse imediatamente uma lista dos doentes, separados em judeus e não judeus. A coisa parecia clara. Ninguém se espantou pelo facto de os alemães conservarem até ao fim o seu amor nacional pelas classificações, e não houve judeu que continuasse seriamente a pensar que iria viver até ao dia seguinte.»
21 de Janeiro de 1945: «Na madrugada do dia 21 a planície apareceu-nos deserta e rígida, branca até ao horizonte, sobrevoada pelos corvos, mortalmente triste.»26 de Janeiro de 1945: «Jazíamos num mundo de mortos e de larvas. O último vestígio de civilização desaparecera à nossa volta e dentro de nós. A obra de animalização, começada pelos alemães triunfantes, fora levada a cabo pelos alemães derrotados.»