Em ano e meio, que é o tempo que levo de observação das ruas de Manhattan, caiu o número de bicicletas destroçadas, presas pela trela a sinais de trânsito, postes e círculos de estacionamento.
Quarenta quilómetros palmilhados entre Chelsea e o Central Park trouxeram-me um quadro de patas para o ar, uma carcaça desprovida de membros mas com guiador, um velocípede ajoelhado na forqueta e uma simples roda dianteira à qual os larápios subtraíram tudo o que lhe conferia o aspecto e a função de uma bicicleta.
Esses pobres corpos mutilados lembram-me pessoas sem abrigo, que se vêem e ignoram.
As bicicletas que circulam são prosaicas como os ciclistas que as cavalgam para irem de um lugar a outro.
A emanação elegante da velocipedia serve-se em Times Square, para vender vestuário com sofisticação.
Nuno Rosmaninho