No tempo em que ninguém, mas mesmo ninguém tinha água canalizada, as mulheres de cada família tinham que com regularidade ir ao rio lavar a roupa de toda a família.
Normalmente quando existia na família mais do que uma filha esta tarefa era destinada à mais velha. Poucos eram os privilégios da filha mais velha, mas este foi um que agradavelmente me coube! Ir para o rio era um dia de muito trabalho, mas também de muita diversão e alegria. Saíamos de casa com a bacia da roupa à cabeça e a escolha do local, tinha a ver ou com o tipo de roupa que íamos lavar ou então com o grupo de amigas com quem antecipadamente combinávamos para onde íamos nessa semana.
O Porto Carro era o destino escolhido pelas boas paredes onde a roupa que se punha a secar ficava tão esticada que muitas vezes nem sequer precisava de ser passada a ferro. A Pontinha era mais da preferência das mulheres casadas ou daquelas que tinham os campos perto, assim, matavam dois coelhos com uma só cajadada, lavavam a roupa e nos intervalos abriam a água para o lameiro.
O Moinho Velho, pelas suas características mais bucólicas e românticas era o espaço de eleição das meninas comprometidas que muitas vezes eram agradavelmente surpreendidas com a visita do seu amado.
Entretanto, fazia-se uma pausa, comia-se e partilhava-se a merenda que levávamos de casa. No rio, partilhava-se a água, o espaço, a merenda, os segredos e os sentimentos. No rio aprendia -se a ser mais tolerante, a aceitar as diferenças e a respeitar o espaço público. No rio aprendia-se a ser GENTE!
(Foto DR)