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Paulo Neto
A perda da realidade é uma espécie de neurose narcísica em que o eu se centra e foca nas suas conveniências egocêntricas e nas circunstâncias que lhe são favoráveis, recusando todas as outras.
Vimos isso em Donald Trump, o presidente eleito pelos norte-americanos que ao fim de um mandato dele se cansaram e embora o mandaram.
Vimos isso em Jair Bolsonaro, o presidente eleito pelos brasileiros que ao fim de um mandato dele se cansaram e embora o mandaram.
Trump perdeu para o seu émulo Biden. Bolsonaro para Lula.
Os políticos populistas da direita radical muito cedo dizem ao que vêm e a soldo de quem estão. E a quem servem…
Trump não passou o testemunho a Biden, com o seu desmesurado orgulho afectadíssimo, clamando teorias de conspiração por um resultado eleitoral negativo, tentando encontrar bodes expiatórios para lá de si próprio e da sua “doentia” governação.
Outrotanto sucedeu com Bolsonaro que voou apressadamente para a Florida, recusando estar presente na tomada de posse do seu adversário político e negando o resultado eleitoral democraticamente alcançado.
Jair Bolsonaro terá ido de férias ou terá fugido dos seus próprios actos enquanto presidente, agora, como com Trump, passíveis de o fazer cair sob a alçada da Justiça?
Perdida a imunidade inerente ao cargo, ambos se tornaram cidadãos normais. Nos EUA foi provada a implicação de Trump no ataque terrorista ao Capitólio, foi provada a fuga ao fisco em milhares de milhões de dólares… e a procissão vai no adro. E no Brasil?
Estes desenlaces evidenciam também o porquê destes líderes estarem tão empenhados na continuidade governativa. Com ela estão a salvo. Sem ela arriscam-se a todas as consequências judiciárias. E serão muitas…
Lula da Silva teve ontem o dia da sua tomada de posse. Que deveria ter-lhe sido simbolicamente dada – o passar da faixa – pelo presidente cessante. Que se recusou a fazê-lo, como mau perdedor que mostrou ser. A transmissão de poderes não perdeu por isso. Antes ganhou, pois foi dada a Lula da Silva pelo Povo brasileiro e pelas mãos de uma mulher negra, Aline Sousa, 7 filhos, catadora de profissão. A seu lado estavam:
O cacique kayapó Raoni Metuktire, com 90 anos, convicto defensor da preservação da Amazônia.
Weslley Viesba Rodrigues Rocha, metalúrgico de 36 anos.
Murilo de Quadros Jesus, professor, 28 anos.
Jucimara Fausto dos Santos, cozinheira, do Pará.
Ivan Baron, jovem portador de deficiência causada por uma meningite que provocou uma paralisia cerebral aos 3 anos.
Flávio Pereira, artesão do Pará.
Francisco, com 10 anos, nadador do Corinthians.
Estes oito cidadãos representam o povo brasileiro na sua heterogeneidade, na sua diversidade, na sua simplicidade, na sua realidade.
A posse de Lula da Silva contou com a expressiva presença de 73 chefes e vice-chefes de Estado, chanceleres, embaixadores e enviados especiais.
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