Estranhos tempos estes em que a verdade e a mentira se confundem no linguarejar politiquês; em que os actos de quem governa parecem virados não para o povo que os elegeu, mas para interesses de garantida opacidade; em que o povo está asfixiado por impostos e normas impostas pelos de cá e os de lá, como os da madame Lagarde que, a pretexto da inflação, continua a nutrir alarvemente instituições como a banca, desgraçando centenas de milhares de lares…
Somos um hoje um país vendido ao turismo e aos especuladores internacionais. Não há habitação para os portugueses, todo o fundo de loja, neste afã do lucro fácil se tornou “pensão” sem penso, progredindo sem rei nem roque. Os estudantes do ensino superior veem-se compelidos a desistir, após anos de estudo para entrarem num curso que lhes almeje futuro, pelos preços reclamados dos quartos, em apartamentos sem condições, que albergam seis ou sete estudantes ao preço de 500 euros por cabeça, ou mais. Os “negócios da china” transformaram Lisboa na 2ª cidade mais cara da Europa, a seguir a Paris. Que troféu!
Ouvem-se recorrentemente queixas dos vários sectores profissionais, professores, médicos, enfermeiros, funcionários da Justiça, etc. Todos reivindicam, em vão, salários dignos, ou pelos menos, salários que façam face às despesas quotidianas e ao seu imparável aumento. Entretanto, o governo através da trituradora máquina tributária, fatura milhares de milhões num país onde milhões de pessoas vivem no limiar da pobreza.
Um governo que parece louvavelmente apostado em diminuir a estratosférica dívida pública. Mas querendo fazê-lo à custa da crucificação de todos nós, já exangues de tanta hemorragia.
As eleições estão a chegar. Vêm em catadupa. A 24 de Setembro na Madeira. Em Maio ou Junho de 2024 para o Parlamento Europeu. Em Outubro deste ano para os Açores. Em Setembro ou Outubro de 2025 para as autarquias locais. Em Janeiro de 2026 para o Presidente da República e no fim desse ano, em Setembro ou Outubro, para a Assembleia da República.
Ou seja, as provas de fogo estão à vista no horizonte. Será o tempo efémero dos milagres de circunstância, baixa temporária de impostos, residências para os estudantes universitários, habitação para todos, combustíveis mais baratos, caça mediática aos ladrões e especuladores, aumentos salariais da treta, diálogo aberto com as frentes sindicais, promessas a rodo, etc. Um maná!
Com isto tudo, já poucos confiam nos “vendedores de ilusões” e/ou de “banha da cobra”. Sabem da mentira que ocultam nas retóricas que pregam. Sabem do circunstancialismo do seu agir. Sabem que eles, em geral, andam na política não para governar, mas sim para se governarem.
Manso, o povo, raspa o cotão dos bolsos para o pão nosso de cada dia. Vibra com o futebol e penitencia-se, temeroso, em Fátima, dos pecados que já nem comete. Canta-se o fado acanalhado nos novos circos ou coliseus. Verte-se uma lágrima condoída do destino da Severa. A procissão sai do adro, luzidia. O foguetório tonitrua no coreto. Os autarcas encaminham a 3ª idade para a Quinta da Malafaia, onde o voto se conquista com viras, malhões e comida à tripa forra. Pena ser só uma tarde.
Triste Portugal este, perdida a fé, as ilusões e a crença num país melhor…