Li, ainda não vai para um mês, que corria no país, empurrado pelos arautos das virtudes peticionárias, um rogo para acabar com o nome de Salazar, nas 22 ruas do país, que ainda o ostentam, gravado em azulejo, granito ou mármore.
Ao que se sabe, o povo das ditas povoações não liga nenhuma ao caso e não se importa. Até lhe incomoda a mudança da toponímia com a burocracia de papéis e mais papéis exigidos na actualização da documentação oficial. Mas andamos, agora, nesta fase de distorcer a História e esconder os protagonistas. Modernices.
Algumas histórias e figuras da nossa História devem envergonhar-nos e fazer-nos pensar. É verdade. Mas não é tapando-as, que evitamos que voltem, em espírito ou matéria. Encobrindo-as, mais contribuímos para a curiosidade dos ignorantes e para a tentação dos desabrigados. Quanto mais se esconde, mais se lembra.
Esta sanha doentia, de matriz persecutória, a reboque de movimentos ideológicos em voga, esquece o contexto e as circunstâncias. Na minha adolescência, achei um gesto nobre ter-se rebaptizado a Ponte Salazar para Ponte 25 de Abril. Hoje, ressequido pelos anos, acho que foi uma parvoíce revolucionária. Nunca gostei do senhor, nunca me fez favores nem me protegeu. Não lhe devo nada. Mas conheço, de ler e ouvir falar, as malfeitorias que fez e o medo que alimentou. Mas isso não justifica que o sequestremos. Até por isso, não alinho neste processo de desconstrução da História e de memória selectiva, para agradar aos novos gurus. E, aqui tão perto, coisa igual e parecida, que passa despercebida.
Por favor, deixem-se de friúras e olhem para o mal que o povo passa. E não me chamem fascista ou populista, que eu não aprecio etiquetas nem carimbos.
(Fotos DR)