O 25 de Abril, Dia da Liberdade, à mistura com racistas, xenófobos e salazaristas é como deitar estricnina na sopa.
Os deputados do Chega ofenderam o presidente do Brasil, na recepção da Assembleia da República, apupando-o enquanto discursava, e ostentando cartazes onde se dizia: “O lugar de ladrão é na prisão” e ainda bandeiras da Ucrânia. Ora, em primeiro lugar, Lula foi inocentado dos crimes de corrupção de que foi acusado, com alguns arquivadosr falta de provas ou anulados por erros processuais. O juíz Sérgio Moro (que fez campanha por Bolsonaro, se fez membro do seu partido e foi seu ministro da Justiça) dirigiu a acusação e o julgamento, e ficou provado que trocou mensagens com os procuradores do processo da Lava Jato, manipulando e adulterando a investigação.
Agora, o juíz Moro está a ser investigado pela Justiça brasileira, tal como muitos outros membros do seu partido, no âmbito da operação anti-corrupção da Lava Jato. O Ministério Público do Brasil pediu ao Tribunal de Contas para congelar os bens de Bolsonaro, após o ataque aos três poderes de Brasília por parte de bolsonaristas instigados pelo chefe, à semelhança do que aconteceu com Trump e o ataque ao Capitólio. A ONG Transparência Internacional acusou Bolsonaro, em Janeiro passado, de “criar o maior esquema de corrupção institucionalizada já conhecido no Brasil, conhecido como «orçamento escondido»” e por “desmantelar estruturas anticorrupção que levaram dezenas de anos a construir”. A Polícia Federal brasileira abriu um inquérito para apurar a entrada ilegal de várias jóias que a Arábia Saudita, em 2021, enviou para Bolsonaro e sua mulher, avaliadas em três milhões de euros”. Outro inquérito foi aberto para investigar se houve crime de genocídio e omissão de socorro ao povo yanomani pelo governo de Bolsonaro, durante a pandemia de Covid-19, conforme denúncias da Associação dos Povos Indígenas do Brasil e da ComissãoArns que levaram à condenação de Bolsonaro pelo Tribunal Permanente dos Povos. Para além da desmatação da Amazónia e outros biomas no Brasil ao ritmo da área de 8 estádios de futebol por minuto, só em 2020.
Por outro lado, os deputados do Chega, que ostentaram bandeiras da Ucrânia diante de Lula, deviam ter vergonha de mentir aos portugueses, já que se o líder do seu partido tivesse sequer respeito pelo povo ucraniano vítima da invasão criminosa de Putin não teria convidado para a abortada “cimeira da extrema-direita mundial”, em Lisboa, amigos de Putin, como Matteo Salvini e Bolsonaro.
Lula da Silva assinou duas declarações, com Biden e com Costa, a condenar a invasão russa da Ucrânia e votou na ONU contra a invasão da Ucrânia. Lula junta a sua voz às de inúmeros dirigentes e responsáveis mundiais, como o Papa Francisco, que defendem negociações de paz, de acordo com Direito Internacional e a Carta das Nações Unidas, em vez da continuação de uma guerra que já matou centenas de milhares de pessoas, correndo o risco de uma escalada que pode levar a um conflito com armas nucleares de consequências trágicas para a Europa ou para toda a Humanidade.
Ora, qualquer regime ditatorial é, só por si, uma forma de corrupção ao controlar o poder judicial. Este, no salazarismo, não tinha independência do governo. Os juízes passavam do Ministério Público para a magistratura por decisão do ministro da Justiça. A burocratização da administração pública abria caminho aos favorecimentos, às cunhas e ao nepotismo. A diferença é que a censura não nos deixava saber de nada (até censuraram as notícias dos 700 mortos das cheias do Tejo, de 67) e hoje, graças ao 25 de Abril, há liberdade de imprensa e de opinião e temos conhecimentos dos escândalos de corrupção e outros. A própria Lei do Condicionamento Industrial era uma forma de corrupção ao interditar a entrada de novas empresas no mercado, eliminando a concorrência e favorecendo os monopólios que levaram ao subdesenvolvimento de Portugal, apesar da exploração das colónias.
Mas se a ignorância pode explicar aquela afirmação mentirosa, já dizer que era um bom indicador as mulheres portuguesas terem uma alta taxa de fecundidade é um insulto a todas as mulheres que foram vítimas de uma cultura patriarcal que as tratava como parideiras de mão-de-obra familiar para a agricultura, e de uma igreja que até há bem pouco tempo proibia os métodos contraceptivos e o aborto (que realizado clandestinamente levou à morte de milhares de mulheres). Mulheres que sofreram por não terem comida para dar à sua prole e por não poderem dar mais estudos aos filhos e filhas. O trabalho infantil envergonhou Portugal por muitas décadas do século XX.
Mas, como a representante do Chega não compareceu à sessão da Assembleia Municipal, no dia seguinte, 26 de Abril, estamos em crer que se deve ter arrependido de ter lido, sem pensar no que dizia, a minuta que o seu partido enviou para todos os eleitos do país. Pode ser que siga o exemplo dos muitos que se desiludiram com tal desventura e já abandonaram este partido unipessoal de irresponsabilidade ilimitada.
No passado dia 13 de , Ventura substituiu a abortada, mas tão propagandeada, “cimeira mundial da extrema-direita em Lisboa”, por um simulacro de cerco à sede do PS (um acto anti-democrático, a fazer lembrar os ataques às sedes de partidos de esquerda no “Verão quente” de 75), afirmando no seu discurso: “(…) Este é o momento de fazer essa luta até que os cravos vermelhos que nos deram Abril, e toda a corrupção de Abril, sejam substituídos pela nova primavera (…)”. Ora,“substituir os cravos vermelhos de Abril” significa substituir a Democracia que o 25 de Abril nos deu! E a “nova primavera” só pode ser um regime sucedâneo do derrubado em Abril: o “Estado Novo” de Salazar. Por debaixo do “diáfano manto” populista, fica “a nudez crua” do charlatão salazarista.
NÃO PASSARÃO!
(Foto DR)