Em entrevista ao Jornal Solidariedade, da CNIS (Organização que representa a instituição que dirijo), a senhora Presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, Dr.ª Luísa Salgueiro, diz que “Vamos passar por um processo em que vai ser necessário que as IPSS, o setor social demonstre a vantagem do seu trabalho”.
Senhora Presidente, nós, com vantagens e desvantagens (como em qualquer setor), damos o nosso melhor, fazemos (pode estar certa disso) muito com pouco, todos os dias. Não me refiro ao milagre da multiplicação dos peixes, mas, isso sim, à realidade quotidiana de trabalho árduo, em prol das comunidades em que nos inserimos, das famílias e de cada pessoa que confia no nosso trabalho. Temos margem para melhorar e otimizar a eficácia e a eficiência das nossas ações? Sim, com toda a certeza. Não posso, contudo, aceitar que, nesta fase do campeonato, nos venham dizer que (ainda) temos que provar. O terceiro setor nunca faltou à chamada, disse sempre sim, mesmo nos momentos mais conturbados económica e socialmente que assolaram o nosso país. Não tenho quaisquer dúvidas quanto à validade, qualidade e relevância do nosso trabalho, fortemente alicerçado nas relações de proximidade, contribuindo, em grande medida, para o combate à pobreza e à desigualdade social e para a coesão territorial.
O Decreto-Lei nº 55/2020, de 12 de agosto, veio dar execução à Lei nº 5/2018, de 16 de agosto – diploma que aprovou a transferência de competências para as autarquias locais, em vários domínios, designadamente em matéria de ação social. As portarias nº 63, 64, 65, e 66 de 2021, respetivamente relativas a SAAS – Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social, CLDS – Programa Contratos Locais de Desenvolvimento Social, à celebração e acompanhamento dos contratos de inserção dos beneficiários do RSI e Cartas Sociais Municipais, vieram regulamentar o referido Decreto-Lei nº 55/2020.
Tal como nós, nas Obras Sociais de Viseu, muitas entidades, em todo o território nacional, constituíram equipas multidisciplinares para cumprir, com sucesso, as missões que lhes são confiadas e contribuírem para o êxito das políticas públicas. Em linha com Eugénio da Fonseca (Presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado), também eu acredito que muitas das nossas IPSS já lutam por serem “poetas sociais”: “O «poeta social» trabalha para que se torne realidade o que para alguns não passam de meros sonhos: arrisca, propõe ideias novas, porque a relação de proximidade faz conhecer os anseios concretos das pessoas: é criativo; promove iniciativas que contrariam o «sempre se fez assim»; é audaz; liberta, pois não faz para, nem por os outros, mas com eles, particularmente com os mais vulneráveis; é sensível.”
Reunindo os meios necessários, queremos continuar a ser parceiros de referência na intervenção social e comunitária, cumprindo a nossa missão e contribuindo para a densificação da valiosa e imprescindível rede social.
Capacitámo-nos e queremos continuar a contribuir para a longevidade feliz das pessoas, ao longo do seu percurso de vida, promovendo, na comunidade em que nos inserirmos, a saúde, a segurança, a participação e a aprendizagem, potenciando a autonomia, a não discriminação e a inclusão.