Enquanto na Alemanha o nazismo caía, em Coimbra começou a erguer-se, no dia 4 de Janeiro de 1945, a escadaria monumental, que devia servir com grandeza a imponência da cidade universitária de Coimbra.
Na Curia, decorriam os acabamentos da estação ferroviária: assentamento das floreiras, dos painéis de azulejo, das vidraças nas montras e das «portas de lagarta» da tabacaria, ampliação da plataforma descendente, calcetamento do largo, etc.
Em 19 de Janeiro, Salazar viajou para a sua terra natal, Vimieiro, onde ficou cinco dias e comprou uma «testada de mato e pinheiros com a área aproximada de oitocentos metros quadrados, sita ao Pote». Assim estendeu os seus domínios rurais. Gastou mil escudos.
Em Fevereiro, José Régio escreveu aos pais. Estava, como se sabe, em Portalegre. Os pais, em Vila do Conde. O frio provocara-lhe indisposições, de que já se recompusera. Recebeu deles manteiga, que rareava na cidade alentejana, onde também faltavam os enchidos. «Só duas linhas,» escreveu em 4 de Fevereiro, «para dizer que recebi e agradeço a manteiga que me faz aqui muito jeito. É coisa que por cá não há, (os particulares que a têm também a mandam vir de fora) pois nem o leite chega para as encomendas.» Também lhe chegou «a lata (ou garrafão) do azeite, que qualquer dia irá outra vez cheio.» Retribuiu com o envio de «um pequeno caixote com umas coisitas de porco e doce» para o Carnaval. «Eu queria mandar mais, e melhor. Mas agora tudo falta: Até faltam os enchidos de porco em Portalegre, que é a terra deles!»
O meu pai ia de comboio para Coimbra aprender a arte de chapeleiro numa loja da Baixa, mas, medindo o declínio no uso de chapéu, já pensava em montar uma mercearia em Tamengos. A minha mãe andava na escola primária. O avô Zé Rolo e a avó Leopoldina dedicavam-se à agricultura. O avô Maneco e a avó Águeda atendiam os clientes na mercearia da Mata. Eu ainda não sabia nada disto.