A primavera está aqui, com o equinócio a 20 de março. Uma estação de desde tempos primordiais é associada ao despertar e ao início de um novo ciclo, na Natureza, mas também nas vidas humanas que nesta estação mergulham numa nova esperança. A primavera é daqueles casos em que a definição do dicionário se mistura com o conceito simbólico e ambos acabam por ser uma e a mesma coisa.
Com o sol morno da primavera, com as suas paisagens pintalgadas de verde fresco e com o chilrear matutino dos pássaros, vêm as árvores e a floresta, a poesia e a água. Quando digo isto estou a referir-me não só às alterações próprias da estação, como também a três efemérides que se seguem ao equinócio: Dia Mundial da Árvore e da Floresta a 21 de março, Dia Mundial da Poesia, no mesmo dia, e dia Mundial da Água a 22 de março. Estas são também três coisas cuja reflexão é particularmente pertinente neste momento.
Começando pela Floresta, não é novidade que com o aumento das temperaturas se começam a temer os incêndios. Saíram recentemente dados da Linha SOS Ambiente e Território, do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente, o SEPNA, da GNR, que nos dizem que foram recebidas 1.485 denúncias de crimes contra a floresta e o ambiente no distrito de Viseu em 2020, mais 175 em comparação com 2019.
As denúncias recebidas pelo comando de Viseu constituem mais de 12% da totalidade de denúncias recebidas pela GNR em todo o território nacional. Aqui, a maioria das denúncias, 546, enquadraram-se na área da defesa da floresta contra incêndios. A floresta é, de facto, um motivo de preocupação.
A ausência de um pensamento estratégico para as nossas florestas traz, com o calor, todos os anos, a insegurança de que não se voltem a repetir incêndios trágicos. Continua a ser necessária, e cada vez mais urgente, uma mudança de paradigma na forma como concebemos o território e a floresta, que deveria ser palco de biodiversidade, equilíbrio e proteção, em vez de sinónimo de monocultura, lucro e medo.
Passando ao outro atributo do dia 21: a poesia. Continua a ser tão precisa como sempre foi. A poesia, o lirismo, a cultura, desvalorizados numa sociedade capitalista, são veículos para uma reflexão e construção livre do ser humano e do mundo que o rodeia. A poesia é a forma de expressar o que não cabe nas palavras, permitindo de forma única a construção de novas ideias, novas imagens, novas realidades, novas primaveras.
Nos já referidos dados divulgados pela GNR sobre as denúncias recebidas através da linha SOS do SEPNA, em Viseu os contactos relacionados com o domínio hídrico surgem em segundo lugar, contabilizando 184.
Não deixemos este início de um novo ciclo passar em vão, não deixemos as efemérides que a ele se colam serem despidas de significado – a floresta, a água e a poesia, que tudo perpassa, importam e devem ser cuidadas, pelas primaveras que estão para vir!