O PSD cumpriu a promessa eleitoral de, em 60 dias, apresentar um plano de emergência para a saúde.
Como sempre, a oposição, com o PS à cabeça, destratou o documento, dizendo ser um mero conjunto de intenções, sem, contudo, apresentar alternativa, certamente por não a ter ou, tendo-a, não ser credível.
Os socialistas, que nesta matéria foram protagonistas de um passado bem triste e desgraçado, devem ter boa memória do que fizeram com o Mecanismo Nacional Anticorrupção (MENAC), criado em Dezembro de 2021, e que em 2023 ainda não estava instalado, e com a Direcção Executiva do SNS, criada em Agosto de 2022, designado o seu presidente em Outubro do mesmo ano, só vendo aprovados os seus estatutos, que definiram a sua organização interna, no mesmo mês do ano seguinte.
Dois exemplos, entre outros, de entidades que, depois de criadas no papel e anunciadas com toda a solenidade, demoraram anos a ser dotadas de recursos e a ser implementadas. Dois exemplos de uma lentidão absurda e exasperante, na decisão política, de interregnos nada louváveis. Neste aspecto de interregnos entre intenções e execuções, o mais recente PS não tem curriculo nem moral para dar lições seja a quem for.
Em nome da verdade histórica, vale a pena lembrar que o PS, com 8 anos de governação, deixou a saúde num caos, sem ideias nem projectos que lhe dessem rumo e esperança em dias melhores, e o SNS em cacos, razoável para quem entrou, detestável para quem, frágil e vulnerável, tem de aguardar.
Mesmo mudando de ministros, não foi capaz de uma política de jeito, que robustecesse o SNS e desse aos seus utentes o tratamento que a dignidade exige e reclama. Foram anos e anos de absoluta inépcia e de inúteis medidas avulsas, para além do malogro das negociações com os sindicatos da classe médica e de enfermagem.
O partido do diálogo, seguindo o incensado líder de então, obstinado com o seu espelho, transformou-se no grupo dos teimosos, substituindo os méritos da palavra pelas virtudes do golpe de malhete. Numa obsessão, insensata e tonta, perderam tempo e aliados, na proporção em que ganharam adversários e revoltados.
Também por isso, tudo o que vier é bom, porque pior não pode ser. O panorama com que a ministra da Saúde se confronta é aterrador, verdadeiramente apocalíptico, capaz de desmoralizar o mais corajoso político. É inconcebível que se tenha chegado a este desastre social, a um ponto de ruptura, que ameaça pôr em causa os cuidados mínimos de saúde devidos pelo Estado aos seus cidadãos.
Pois bem, o plano prevê, entre muitas outras medidas, o fim das listas de espera oncológicas (consultas e cirurgias), mais do que prioritárias, em 3 meses, e até ao fim do ano as demais listas, e a criação de novos centros clínicos em Lisboa e no Porto, para alívio das urgências. Parece-me bem. Contudo, para que este plano não seja apenas um conjunto de “power-points”, coloridos e atractivos, olhemos aos detalhes, a gestão e a informação, desejavelmente presentes durante a sua execução.
Impõe-se um gestor exclusivamente dedicado a garantir a sua aplicação e uma informação regular sobre o seu cumprimento, garantindo transparência ao processo. Dois requisitos para que o plano tenha mais condições de eficácia. Veremos até que ponto o governo, honrando o compromisso de apresentação do programa, tem agora meios para cumprir as datas nele elencadas.
Se a equipa da saúde, à semelhança das anteriores, falhar, e tendo em conta a pressão que o próprio governo colocou nesta área tão sensível, resta-lhe o caminho da saída.
Depois de tudo isto, será prudente que o PS saia de fininho da discussão à volta do programa apresentado, e aguarde pelo seu eventual incumprimento para dar sinal de vida, mesmo que com poucos créditos. Até lá, sem razões para duvidar seja do que for, que gaste o seu tempo a reflectir sobre os erros de palmatória que infantilmente cometeu, sempre convencido de uma verdade que os votos não sufragaram.
Silêncio, caldos de galinha e uma longa cura de oposição só lhe farão bem.