Pedro Nuno, Medina e Costa

Costa é o grande político do momento. E voltou a ganhar o gosto pelas coisas do país e da governação.

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    • 9:58 | Sexta-feira, 14 de Outubro de 2022
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    1. A família de Pedro Nuno Santos é proprietária, em São João da Madeira, de empresas na área da maquinaria industrial, em especial para o setor do calçado. Essas empresas abastecem uma parte muito substancial do mercado, fruto da capacidade única do seu patriarca em manter, com os grandes fabricantes, uma relação privilegiada e das equipas que conseguiu construir.

    Pedro Nuno Santos, desde que desceu para Lisboa para cursar Economia, só teve um relacionamento curto com o grupo, entre 2012 e 2015, altura em que, por ter sido candidato a Presidente da Câmara, ficou de fora das listas de deputados.

    A participação do Santos filho no Grupo Santos é, como todos os portugueses ficaram a saber. O negócio não se desenvolve na área em que é ministro e todas as relações contratuais são feitas a um nível base das administrações públicas.


    É por isso que as notícias dos últimos dias, sobre uma qualquer incompatibilidade, são patéticas. E ainda por cima  tudo foi acautelado com pareceres jurídicos e opiniões da PGR.

    O que nos trouxe aqui? Tão só uma parte da classe política cheia de medos da voxpopuli.

     

    Ao longo da última década, o Parlamento foi ao lombo da lei das incompatibilidades e dos impedimentos sempre que houve notícias gordas. Assim, há já nos maiores grupos parlamentares uns puritanos que estão sempre preparados para fazer o novo homem político, aquele que seria o ideal em processo de liofilização espiritual e perante um povo de ceitoira em punho.

    Os deputados andaram a arranjar lenha para se queimarem. E vão continuar, se não colocarem açaime nos tais puritanos. Marcelo parece ter-lhes dado ontem mais uma oportunidade para saírem da toca.

    Não há um só português, que tenha estado com Pedro Nuno uma só vez, que acredite que o ministro poderia, algum dia, telefonar a quem quer que seja para ajudar a vender uma máquina. Se alguém acredita é porque está maluco.

    Mas há coisas que devem ser perguntadas. É mais beneficiado, em abstrato, alguém que, por ser ministro dos transportes, tem uma família que vende máquinas para fabricar sapatos, tudo negócios privados com pequenos fornecimentos púbicos, ou alguém que, sendo irmão do Presidente da República, é figura central de uma das maiores sociedades de advogados do país? Como se inscreveria esta incompatibilidade no estatuto do Presidente?

    2. Quero agradecer a Fernando Medina o facto de não me ter feito esperar até às 23 horas e 59 minutos para ver o Presidente da AR deixar cair a pen que continha o Orçamento do Estado para 2023. Assim, foi possível saber todas as notícias em hora de reformado e antes da sopinha das 19 horas.

    Não é de somenos esta entrega a horas do Orçamento. Como também não é o facto de não ter havido necessidade de substituir mapas e gráficos nos dias seguintes. Mostra competência, cuidado, e leva-nos para o clube dos países que fazem as coisas com tempo.

    O Orçamento de 2023 é o primeiro de um tempo a que chamarei anti geringonça. Porque não cede, mesmo perante as crises em que estamos, no défice e na dívida. Isso é central para a credibilidade do país e do governo.

    Por mim, se estivesse naquelas reuniões das segundas-feiras, não haveria dia em que não implicasse com Costa para que o país, já este ano de 2022, conseguisse um superavit significativo. Porque continuaríamos a dar bons sinais aos mercados,  porque continuaríamos a tratar das gerações futuras, não lhes deixando “calotes” para pagar.

    Contas certas em 2023, mas também um acordo entre patrões e trabalhadores. Para os rendimentos, para a modernização, para a transição energética e digital, para a formação profissional, para o investimento púbico, para a melhoria do aparelho estadual.

    Os partidos que estão à direita do PS acham que o OE é uma farsa; os partidos que estão à esquerda também acham o mesmo. Não é nada que não se esperasse!

    Sabemos que a economia portuguesa está num momento decisivo. A falta de mão de obra qualificada leva a que tenhamos que aumentar salários; a alteração das cadeias de valor apresentam novas e significativas oportunidades. O país está, como já não estava desde a segunda metade da década de 1980, em condições de se transformar aceleradamente.

    Um dia disse a Medina que os chineses acham sempre que os insucessos são dádivas de Deus. Talvez a perda da Câmara de Lisboa tenha sido a oportunidade de poder dizer ao país que soma em si competência política e saber económico e financeiro importantes.

    3. Costa é o grande político do nosso tempo. E voltou a ganhar o gosto pelas coisas do país e da governação.

    No último mês do Governo, não visto pelo lado dos casos e casinhos que só interessam aos tipos mentalmente solitários, o executivo apresentou medidas fortes no combate à crise energética, sustentou as empresas perante essa mesma crise e apresentou um programa de contenção de gastos que alcança as metas europeias sem as greves e as guerras que se constatam em França e em Espanha.

    Depois, não se deixou levar pelo frenesim da oposição e, no primeiro debate parlamentar desta sessão legislativa, colocou todos os assuntos no seu sítio.

    Para além disso, não se deixou influenciar pela  excitação de Belém. O Governo não tem de apresentar os cenários macroeconómicos quando o Presidente quer, mas sim quando a sua agenda impõe.

    Costa parecia cansado, acabrunhado, sem chama. No discurso que se seguiu ao acordo da Concertação Social (uma palavra ao Francisco Assis pelo seu trabalho de formiga) havia ali mais do que o habitual, nas imagens e nas palavras, menos nas vestimentas que naquela dia ele não soube conjugar.

    Costa ganhou, neste tempo de grande interrogação, novo fôlego. E também deu sinais – levou Pedro Nuno Santos à reunião com Montenegro e deu gás aos investimentos no TGV que são uma das profundas marcas que ficarão deste seu tempo enquanto chefe do Governo.

    (Fotos DR)

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