A Câmara Municipal de Viseu (CMV) deliberou, por unanimidade, atribuir a Medalha de Ouro Municipal a António de Almeida Henriques (AH) e levou à Assembleia Municipal a atribuição do “Viriato de Ouro”, tendo a presidente em exercício, Conceição Azevedo, anunciado que futuramente seria ainda atribuído o nome do malogrado ex-presidente do executivo a uma das artérias da cidade (o que já foi concretizado) e a um edifício que represente “realmente a abrangência do sonho que sonhou para Viseu”.
Talvez para não ter de esperar pela concretização dos sonhos, o vereador Jorge Sobrado apresentou ainda a proposta de atribuição do nome de Almeida Henriques ao Polo Arqueológico de Viseu (PAV) a funcionar na Casa do Miradouro.
Sem pretender questionar aqui a justeza de tão prolífera homenagem, tenho de confessar que me chocou esta proposta, não tanto pelo nome de AH, mas precisamente por desrespeitar a sua vontade, ao passar por cima de uma figura cimeira da arqueologia viseense, João Luís Inês Vaz (a par de José Coelho que já se encontra consagrado no núcleo museológico com o seu nome, na Casa do Miradouro), uma vez que, após o seu falecimento em 2015, o próprio Almeida Henriques (como lembrou Catarina Vieira, na última sessão da Assembleia Municipal de Viseu), disse: “É minha vontade perpetuar a sua memória na cidade”.
E que melhor forma de perpetuar a memória de João Inês Vaz do que atribuir o seu nome ao Polo Arqueológico de Viseu, dado ter sido ele a criar e organizar o I Colóquio Arqueológico de Viseu, em 1988, ter sido presidente da Comissão Organizadora do II Colóquio Arqueológico de Viseu, que decorreu de 26 a 29 de Abril de 1990, e em 1988 ter sido convidado pelo município para Coordenador do Gabinete de História e Arqueologia da Câmara Municipal de Viseu. Tudo isto sem contar com o extenso “curriculum” nas inúmeras actividades a que se dedicou ao longo da vida (docente, pedagógica, científica e política), evidenciado nas várias instituições e associações de que foi fundador ou membro nas áreas do património e da arqueologia.
Sobrado, aliás, com esta proposta, não só homenageia Almeida Henriques, como pretende deixar para a História a sua marca por detrás do “chefe”. Como quem diz: “Por detrás de um grande político está sempre um grande assessor”. Sobrado fez questão de lembrar, ao apresentar à CMV a proposta do nome de AH para o PAV, que foi a ele que se deveu o Regulamento Municipal do PAV, aprovado pelo executivo no Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, de 2019, “com o apoio convicto e institucional de AH”. E vincou ainda que o parecer favorável da Direcção Regional de Cultura do Centro (DRCC) ao PAV, em Março de 2019, foi “fruto de inúmeras interacções“ havidas com esta entidade e a Direcção Geral do Património Cultural (DGPC) , que ele, Sobrado, diligenciou “sob o estímulo e a cobertura institucional e política de AH”.
Acontece que este especialista em comunicação e marketing meteu os pés pelas mãos ao vender à comunicação social local e nacional a ideia de que a lápide romana representando um suposto guerreiro, fora achada agora nas obras de reabilitação do edifício do Orfeão. Isto mesmo depois de o vereador Pedro Baila Antunes, em reunião de Câmara, e eu próprio, no jornal Via Rápida de 22 de Abril, termos denunciado que a lápide fora achada há cinco anos, nas escavações arqueológicas no logradouro daquele edifício Arte Nova, e esteve desde então exposta à chuva, a intempéries e à urina dos gatos, sem os devidos cuidados de preservação.
Em sessão da Câmara de 29 de Abril, sob questão do vereador do PS, Pedro Baila, que pretendia saber a razão de só agora ser divulgado o achado, Sobrado respondeu que só o fez para preservar o achado “em casa”, no PAV, porque se o fizesse antes da DGPC ter reconhecido formalmente (o que aconteceu em 17.05.2020, quer dizer já há um ano!!!), as “competências delegadas no PAV para a criação de uma Reserva de Espólios Arqueológicos para fins de recolha, reserva, salvaguarda, inventário e investigação” a lápide teria, provavelmente, o mesmo destino de outros achados que foram realizados nas últimas décadas (quais?!…) e iria parar a um armazém da empresa responsável pelo acompanhamento arqueológico ou “à guarda da DGPC”.
Será possível que a tutela do Património se comporte como uma entidade malfeitora? E o PAV fica em roda livre e não fica sujeito à tutela da DGPC?…
Conceição Azevedo confirmou que a lápide foi achada há cinco anos. E Baila Antunes confirmou na DRCC que os relatórios do acompanhamento arqueológico já assinalavam há cinco anos a lápide agora apresentada ao país.
Como dizia Fernando Namora no seu poema: “Atenção ao marketing!”