A limpeza social tem como primeira intenção a de eliminar os indesejáveis.
Quem são eles? Prostitutas, criminosos, sem-abrigos, imigrantes, meninos de rua, etc.
Aqueles que a sociedade que os gerou põe à margem, marginaliza, tenta a todo custo ocultar, nomeadamente em momentos nos quais a atenção mundial vira os seus mediáticos focos sobre uma cidade ou um país, no caso concreto, a França, Paris e os próximos Jogos Olímpicos 2024.
Com a atenção mais concentrada nos imigrantes, mormente os clandestinos, Paris quer migrá-los para outras cidades do país, exercendo, assim e para o efeito, um fenómeno de centrifugação humana que está a indignar autarcas de outras cidades francesas, nomeadamente aquelas que estão na mira do governo de Macron para despejar a realidade que se quer ocultar do exterior.
No fundo, a atitude de sempre, a de tapar o sol com a peneira, tem resultados pouco eficazes e revela, essencialmente uma abjecta amoralidade dos políticos, que, em vez de agirem sobre a causa se centram no efeito, varrendo para debaixo do tapete o “lixo” que as suas sociedades neoliberais, cúpidas, gananciosas e desumanizadas souberam gerar para dar resposta aos seus interesses, como o da mão-de-obra barata, numa espécie de nova escravatura que põe em desalmado confronto os países pobres e os países ricos, os estados em guerra com aqueles onde a paz (ainda) vigora.
Quanto ao “day after”, logo se vê, há sempre um vão de porta para fugir do duro frio invernal parisiense, dos passeios de Saint-Denis, do Bosque de Bolonha e dos HLM (habitation à loyer moderé – ou bairros sociais), autênticos barris de pólvora prestes a explodir, numa cidade onde a cosmética empurra para fora, criando ilhas de precariedade, de excluídos sociais, de não integrados, de “cidadãos” com outras regras de jogo que não aquelas em vigor no Eliseu.
(Fotos DR)