O turismo espacial já não é uma utopia para multimilionários, ainda que seja uma miragem para o cidadão comum. A fonte da juventude e a desejada longa vida fazem o seu caminho, vejam-se os projetos Calico Life Sciences, lançado pela Google, a Human Longevity ou a Altos Labs. A inteligência artificial já é omnipresente. “A tecnologia está a mudar o nosso pensamento, o conhecimento, a perceção e a realidade – e, ao fazê-lo, está a mudar o curso da história humana.” (Kissinger H., Schmidt E. e Huttenlocher D., 2021) Três exemplos que me parecem suficientemente ilustrativos dos avanços tecnológicos e científicos, muitos outros, talvez até mais relevantes, poderiam ser considerados.
Que sentido faz num país como os EUA, mais de 500 000 pessoas viverem nas ruas, em tendas, em carros, em cartões? A curta metragem documental “Lead Me Home” (Levem-me para Casa), disponível na Netflix, ajuda a compreender alguns dos motivos que podem levar uma pessoa a ter que viver na rua e as dificuldades que sente para de lá sair e voltar novamente à sua vida. Uma das frases do Luís é bastante elucidativa: “Sempre tive vontade de sair da rua. Simplesmente tem sido difícil.” Nos últimos cinco anos, Los Angeles, São Francisco e Seattle declararam estado de emergência quanto aos sem-abrigo. No documentário, realizado por Pedro Kos e Jon Shen, podemos observar os contrastes entre as tendas e os sumptuosos apartamentos, as filas para garantir a refeição diária e os luxuosos restaurantes, o último grito tecnológico e a lanterna na cabeça para ler alguns versículos, talvez na esperança de conseguir a ajuda de Deus. Uma realidade que se faz sentir em todo o mundo e afeta milhões de pessoas. Em Portugal, o número de pessoas em situação sem-abrigo aumentou 157%, num período de quatro anos – entre 2014 e 2018. Em 2020, a caraterização de sem-abrigos divulgada pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social contava com novo aumento e indicava 8200 pessoas a viver sem-teto, com mais de metade das situações a ocorrer em Lisboa.
Para se entender melhor o que têm vivido os ucranianos nos últimos anos, deixo a sugestão de mais um documentário: Winter on Fire: Ukraine´s Fight For Freedom – The Next Generation Of Revolution. Alerto para o fato de as imagens serem chocantes e visibilizarem a violência exercida, durante os 93 dias que durou a ocupação da praça Maiden, em Kiev, capital da Ucrânia, entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014. Fica bem claro que a agressão russa, mesmo que por interpostas marionetes políticas, não começou em 24 de fevereiro de 2022, quando as tropas de Putin começaram os ataques a várias cidades ucranianas.
Os alunos russos tiveram uma aula virtual sobre os motivos e a suposta necessidade de invadir a Ucrânia e os perigos que a NATO representa. A palavra “guerra” está proibida. Os algozes propõem, pasme-se, corredores humanitários para a Rússia e Bielorrússia (um cinismo moral denunciado pelo presidente francês Emmanuel Macron). Quão colossal pode ser a insanidade de um homem?
Os tempos convocam-nos para uma revisitação da obra de Hannah Arendt, da qual destaco: Da Condição Humana; Nós Refugiados, Para Lá dos Direitos do Homem; Verdade e Política; Entre o Passado e o Futuro e As Origens do Totalitarismo.
(Fotos DR)