Um ano corrido, sentado na acolchoada almofada da maioria absoluta, e com uma oposição fraca e titubeante, o governo devia apresentar-se fresquinho como uma alface. Acontece, porém, que não. Anda murcho e apresenta-se mirrado. Está hesitante, parece caminhar sobre brasas, medroso, escaldado com tudo o que de mau lhe acontece. Quase não há semana que não lhe caia no regaço uma tormenta.Parece bruxedo ou mau olhado com que os ex-parceiros da geringonça, destratados na hora do aguçar das facas, gentilmente o prendaram.
No jeito político poucos ministros dão provas, na estratégia raros são os que respondem, na intuição, no faro, nem se fala, no rasgo é melhor nem lembrar. Todos, contudo, em uníssono, no sorriso fácil e prazenteiro, e no optimismo que atropela as palavras.
Tendo em conta as taxas de execução recentes e o excesso de burocracia que entorpece e envenena a máquina administrativa, não é de espantar que parte significativa destas verbas se perca, desaproveitando-se o que era bom.
O Dr. António tem tudo na mão para reformar o país e deixar uma marca de excelência na condução dos destinos da Nação. Mas parece sofrer do mesmo mal que eu experienciei noutras instituições: gente muito bem preparada na teoria, mas uns redondos fracassos na manobra.
Com uns expectáveis 11 anos ao leme da governação, de nada nem de ninguém se pode queixar se pouco de substantivo vier a mostrar. Aliás, sempre a governar com maiorias folgadas, conjunturais ou estruturais, beneficiando de uma oposição macia, contando com um PR colaborante, e dispondo verbas que nunca mais acabam, não terá perdão se não modificar radicalmente o país. Tendo para isso, que racionalizar o Estado, tornar a economia mais competitiva, equilibrar as contas, diminuir a dívida, optimizar a educação, a saúde e a justiça, apostar na formação e na qualificação dos recursos humanos, nas novas tecnologias e na defesa do ambiente, na valorização e no povoamento do território.
De mão beijada, e sem nada ter feito para o merecer, tem tudo na mão para poder vir a ser quem não é! Então, para começar, e não é pouco, rodeie-se dos melhores, nem sempre os mais fiéis, nem os melhores académicos. Aos primeiros, garanta-lhes um emprego bom numa empresa intervencionada e com ordenados chorudos, aos segundos, deixe-os sossegados nas Universidades, ensinando e investigando.
Vá à sociedade civil, motive-os, mostre-lhes, se a tiver, a ideia que possui para o país, e recrute-os. Onde estão, e quem são eles? Esse trabalho é seu, para isso o povo o elegeu!
Votos de um bem-aventurado ano, que bem deve precisar!
(Foto DR)