Dos dias de pandemia, em especial dos mais negros, se há lição a retirar indiscutivelmente ela é a da indispensabilidade de um forte sistema público de proteção na saúde e no social.
O sistema público de saúde, o SNS, mostrou uma capacidade de resposta notável e uma competência ao melhor nível.
Foi competente ao nível das infraestruturas físicas (só pontualmente se recorreu a meios extra SNS) e foi de uma competência, capacidade técnica e bom profissionalismo ao nível dos recursos humanos que o integram.
A pandemia tem um número de vítimas dramático (qualquer número o seria) mas o que seria sem a entrega dos profissionais e meios do SNS?
A faceta da resposta não hospitalar à pandemia, ou seja a vertente social, também teve uma resposta, globalmente, capaz e adequada.
A proteção na saúde, a proteção social, a reforma por repartição a duração legal de trabalho são direitos coletivos que foram de difícil conquista.
São aquisições sociais que devemos, tendencialmente, ter por intangíveis, intocáveis, imortais.
Soube-se há pouco tempo que a pobreza, em Portugal, teve uma diminuição a roçar o ridículo em 2019.
Desde 2015 que este indicador social vinha a ter uma melhoria consistente e significativa.
Assim, olhando para este último resultado, não será preciso muito estudo para antever que a situação irá ser dramática em 2020.
Todos nós vemos que este último ano foi de perda de rendimentos para largas faixas da população.
Donde a pobreza aumentou, embora não tenhamos uma malha de análise fina que permita uma atuação incisiva e cirúrgica potenciadora de resultados ótimos tem que se agir e proteger os mais frágeis.
Aliás é lamentável que só tenhamos dados sociais com atraso de anos. Isto quando os dados económicos são conhecidos ao segundo (v.g. as cotações das ações) e os relativos ao emprego são conhecidos ao mês.
Urge alterar a situação e ter indicadores mais rápidos no que concerne às situações relativas às situações de carência e pobreza.
Mas perplexante é a constatação de que os mais ricos viram a sua situação melhorar.
Ficaram ainda mais ricos, alargando o fosso que os separa dos restantes grupos sociais.
Constatamos, assim que está a haver uma redistribuição ao contrário.
A riqueza criada em vez de chegar aos mais pobres, vai engordar o quinhão dos mais ricos.
Da pandemia herdaremos mais doenças, mais carências, mais pobres e uma situação económica mais difícil.
Este será o caldo perfeito para gerar um aumento de impostos.
Essa será a altura de repor justiça social fazendo incidir tal aumento sobre os que estão a beneficiar.
Como se dizia há uns anos:
“Os ricos que paguem a crise!”
Até lá urge tomar medidas que garantam vida digna a todos os cidadãos.