Em miúdo, quando jogava à bola, em campo de terra batida, em modo ” muda aos 5 e acaba aos 10″, e perdia, a culpa era da bola, ou era do “árbitro”, quando o havia, ou do tamanho das balizas.
Raramente, assumíamos as culpas, os falhanços e a incapacidade de fazer melhor. A culpa era sempre do(s) outro(s).
Não se pode dizer que os “passa-culpas” sejam uma criação de agora ou uma espécie em vias de extinção. Os “passa-culpas” estão em todo o lado e não são um exclusivo dos políticos, embora o fato lhe assente na perfeição. Não conhecem cor, sexo, idade ou profissão. Não conhecem razão, ocasião, instituição. Eles andam aí.
Os “passa-culpas” enchem as páginas do anedotário nacional e fazem-nos rir pela idiotice das suas palavras, pela ligeireza das suas atitudes, pelo ridículo das suas posições. Pela falta de frontalidade, pela cobardia. Mas sobrevivem à custa de uns tantos que, também dados a travessuras, ainda acreditam nas suas diabruras. São uma versão grosseira do “queixinhas” e do Calimero, sempre infelizes e tristes.
Com eles, é só o lado bom do filme. Nunca assumem os fracassos e os insucessos. A culpa da ineficácia é sempre dos outros.
Os passa-culpas são uns escorredores, que separam a culpa da inocência, uns passadores, que despegam a virtude da safadeza. E ficam sempre com a parte gorda da disputa. Acobertam-se à sombra dos que já estiveram ou passaram e têm uma tendência natural para “chutar para canto”. Fazem-no com tal desfaçatez, que o descaramento incomoda e envergonha quem observa e testemunha. A pressa e a sofreguidão na passagem das culpas chega a ser patética, para não dizer infantil.
De tanto repetirem os argumentos, já ninguém os leva a sério. Sem se darem conta, fazem uma figura triste. Já era tempo desta tacanhice acabar. Não me identifico com pessoas assim. Não convivo com elas, embora, por vezes, não as podendo evitar, tenha que me cruzar com elas. Não tenho nem tempo nem pachorra para as ouvir ou ler. Ou entender, sequer. Dão muito trabalho e não merecem. São mesmo para esquecer.
Nos tempos de hoje, os “passa-culpas” já não se justificam. Estão a mais. Mas existem e entram-nos pela casa dentro todos os santos dias.