Muito se tem falado de saúde e de Serviço Nacional de Saúde a respeito do debate do Orçamento do Estado para 2021.
2020 encarregou-se de, mais do que nunca, colocar o assunto na ordem do dia, no cimo da lista das prioridades e de desmascarar todas as fragilidades de um sistema público essencial para a vida das pessoas, mas que tem vindo a ser despido de investimento ao longo dos anos.
Para quem defende o SNS como única forma de garantir justiça social no acesso aos cuidados de saúde, para quem defende que a saúde não se mercantiliza, é óbvio que resgatar e reforçar o SNS só é possível com orçamento para a saúde, que seja efetivamente investido no SNS, e que não seja dirigido a entidades externas que não respondem a todas as pessoas, nem respondem a momentos de crise, como 2020 também demonstrou.
A centralidade e importância da saúde na nossa sociedade tem sido visível através da “guerra de números” no debate dos últimos dias. Vimos Catarina Martins dizer que 30% das vagas de concurso para médicos têm ficado vazias, o que foi confirmado pelo Observador. Vimos António Costa afirmar que o orçamento para o SNS iria aumentar 805 milhões de euros em 2021, o que o Observador classificou como enganador pela falta de clareza nos dados do Orçamento do Estado para 2021.
Mas muito mais se escreveu e tentou interpretar, com notícias, crónicas, polígrafos e outros que tais, mas uma coisa é certa, entre declarações, cálculos e o relatório do OE2021, os números apresentados “não batem a bota com a perdigota”. Tudo para o Ministro das Finanças confirmar, à posteriori, o que disse António Costa, mas confirmar também que esses números não constavam do relatório do Orçamento do Estado… Se pensávamos que o cenário não podia ficar mais lodoso e confuso, pois que nos enganámos!
Mas vamos esquecer a novela dos números por um momento, vamos olhar para o que nos rodeia e para os casos que conhecemos. Para o vários hospitais perto da rutura, por falta de camas, ou por falta de pessoal médico, de enfermagem, das técnicas de diagnóstico e terapêutica, assistentes operacionais…Todas as pessoas e funções necessárias ao bom funcionamento das instituições de saúde.
Vamos olhar para o futuro próximo, percebendo rapidamente que todo este cenário se tende a complicar e que esta segunda vaga pandémica que se abate sobre nós não foi devidamente preparada e acautelada.
Os serviços de Saúde estão no centro da resposta à pandemia, mas não só agora, estão-no desde março. Esta área deve, mais do que nunca, ser prioritária, para responder à pandemia, mas também para recuperar os atrasos acumulados na resposta geral à população, pois os problemas de saúde não ficaram em confinamento e continuam a existir.
O Serviço Nacional de Saúde tem de ser prioridade, como já deveria ter sido, para uma resposta em tempo certo aos problemas que agora enfrentamos e que ameaçam agravar-se. Antes da pandemia, já era sabido que eram precisos muito mais profissionais, mais investimentos, mais meios de diagnóstico, já era sabido que as respostas que se exigem são estruturais e não meros remendos.
Os números da saúde têm de ser certos e transparentes. O investimento no Serviço Nacional de Saúde, nos seus meios e na valorização de profissionais tem de ser substancial e assertivo. A Saúde tem que ser vista além dos números, como um serviço público, social e essencial.