Os Filhos da Mãe

Os filhos da mãe têm um carácter canalha e uma personalidade miserável. Nem a geada quer nada com eles. O que há mais é filhos da mãe. Às claras, às escuras, à superfície, na sarjeta.

Tópico(s) Artigo

  • 11:54 | Quinta-feira, 03 de Setembro de 2020
  • Ler em 2 minutos

A idade faz-nos mais maduros, mais pacientes, mais ponderados, mais tolerantes. Os anos amaciam-nos, amolecem-nos. Parece que os cabelos brancos são travões e amortecedores. A idade dá calo e lastro. Há pessoas que dizem isso. Estou como elas.

Apesar disso, há uma espécie de gente com quem não travo nem amorteço. Com quem entro a pés juntos, apesar da idade e dos cabelos brancos. São os filhos da mãe.

Em todos os períodos da Humanidade, continentes e civilizações, sempre foi fácil esbarrar e tropeçar nesses espécimes. Alguns, foram protagonistas da História e alavancaram profundas transformações económicas, sociais e políticas. Muitos, são cidadãos anónimos. Alguns, herdaram, e esbanjaram fortunas, a par de outros que gastaram o que nunca foi seu. Outros, têm retratos a óleo em vetustos salões de palácios e palacetes. Muitos, não têm mesmo nada, nem casa, nem dinheiro, nem vergonha. Os filhos da mãe não são uma consequência da Revolução Industrial, da luta de classes, nem uma inovação do progresso tecnológico. Um filho da mãe não é uma novidade, sempre existiu. Um filho da mãe não é um imposto, mas, às vezes, é-nos imposto.


É filho da mãe quem: abusa de uma criança; pratica violência doméstica; gama, aldrabando e especulando; se ajeita à sacanagem e promove a pilantragem; vende gato por lebre; sobe na vida à custa dos carregadores de piano; ultrapassa posições, desprezando regras; desmerece da confiança dada; se roça nos apetites vígaros; quem morde a mão que lhe deu de comer; segrega e prejudica em razão da raça, religião, género e orientação; trapaceia, intriga e humilha; não olha a meios para atingir os fins; calca quem está por baixo e pisa os desafortunados; não tem memória e esquece as raízes; explora a fragilidade pessoal e familiar de outrém; se aproveita da desgraça do desemprego; não se comove com a pobreza infantil; destrata os desprotegidos.

Os filhos da mãe têm um carácter canalha e uma personalidade miserável. Nem a geada quer nada com eles. O que há mais é filhos da mãe. Às claras, às escuras, à superfície, na sarjeta. E quando se juntam todos, em rancho, a dançar o vira e a tocar o reco-reco, é uma filha da putice do tamanho de uma orquestra. O filho da mãe reproduz-se a uma progressão geométrica, cresceu com a crise, que, na sua vertigem predadora, não poupou valores. O filho da mãe está muito longe de ser uma espécie em vias de extinção. Diferentemente do ladrão, que há o bom e o mau, um filho da puta é um filho da puta, ponto. Só. Sem adjectivos. Um filho da puta nem sempre é um “Zé Ninguém”. Mesmo sem adubo, fertilizante ou húmus, eles “andem aí”. E fazem estrumeira…e da grossa

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Opinião