Um estudo da Fundação Gulbenkian refere que só 37% dos portugueses rejeitam um líder autoritário, cerca de 1/3, portanto.
Os restantes 2/3 não são tenebrosos fascistas ou perigosos reaccionários. São os que têm vergonha de, após rios de dinheiro europeus terem desaguado em Portugal, continuarmos a ser dos países mais pobres da UE, os que estão fartos da ausência de um desígnio nacional, de uma estratégia reformista, da pouca competitividade da economia, da reduzida modernização da indústria nacional, da inclinação do país para o litoral, do desinvestimento no interior, do desinteresse por políticas sustentáveis, da rejeição de um novo sistema eleitoral, das gorduras do Estado, da mediocridade de muita da classe política, recrutada nas jotas ou no ambiente familiar, dos diplomados sem futuro, dos empregos precários, da crónica dependência do Estado, empregador e amante, pau para toda a colher. São os que se fartaram da corrupção, da justiça lenta, do direito excessivamente garantístico, dos lóbis venenosos e invisíveis, dos cargos à medida, da falta de incentivos à iniciativa privada, dos perdões fiscais aos tubarões, sempre beneficiados, das injecções escandalosas na banca, da carga fiscal excessiva que complica o empreendedorismo, da acumulação de cargos principescamente remunerados, da promiscuidade vergonhosa de políticos e escritórios de advogados, de “outsourcings” convenientes, que dão a ganhar a todos.
Nesta linha, estou, convictamente, incluído nos 63%. Antes um líder autoritário que um populista. Portugal é um regabofe, uma pilantragem, está transformado numa feira de vaidades, frequentado por agentes políticos e financeiros, absolutamente inimputáveis. O país deu gás a chefes tribais, a sobas, mas está órfão de estadistas. Já os teve, mas morreram. Ninguém sobrevive muito tempo a este faz de conta que anda, mas não se mexe.
Mete verdadeiramente impressão e abala a saúde mental de qualquer um quando se olha para o país que somos, sabendo o desperdício dos milhões que recebemos e que nos fariam mais desenvolvidos, mais competitivos, melhores.