Os caminhos do humano
Em pleno século XXI, tem-se assistido a muitos fenómenos que configuram atentados à dignidade humana e ao que é entendido como sendo os direitos fundamentais de cada pessoa: a liberdade, a autonomia, o respeito, a solidariedade, a justiça, entre outros. A ocorrência destas situações, porém, não tem esmorecido a luta de muitos protagonistas sociais, […]
Em pleno século XXI, tem-se assistido a muitos fenómenos que configuram atentados à dignidade humana e ao que é entendido como sendo os direitos fundamentais de cada pessoa: a liberdade, a autonomia, o respeito, a solidariedade, a justiça, entre outros.
A ocorrência destas situações, porém, não tem esmorecido a luta de muitos protagonistas sociais, notáveis e anónimos, que continuam a empenhar-se numa sociedade dos direitos humanos. Todavia, são também muitos os que defendem e estimulam valores contrários assentes no egoísmo, no materialismo, no abandono, no sofrimento, nos interesses e gostos meramente particulares.
À expansão desta espécie de iliteracia social não tem sido alheio o crescimento do pensamento único ou a hegemonia do poder e da ideologia neoliberal. O seu receituário tem sido aplicado não só a nível das instituições políticas, económicas e sociais, mas também, de um modo mais ou tão perigoso, no campo da educação.
Hoje, as escolas e todos os seus intervenientes são confrontados com vicissitudes que são provocadas por políticas educativas desenraizadas de um sentido existencial. O sistema educativo é dominado por ideias e práticas demasiado intelectualistas e tecnocráticas, desligadas da vida, isoladas dos problemas reais.
Hoje, é o humanismo tecnológico que domina toda a educação. Esta tornou-se o admirável mundo novo da ciência e da técnica, eliminando a experiência das relações interpessoais, os ideais e as utopias. O pensamento e o conhecimento estão a ser fornecidos como elementos estranhos, formais e vazios, longe do plano da reflexão e da acção, assim como das situações e do homem concreto.
Tendo isto em conta, todos aqueles que pretendem continuar este compromisso com a humanização do homem devem voltar a imergir o pensamento e o conhecimento no mundo e fazer do processo pedagógico e educativo um elemento directo da experiência existencial.
Para afirmar o homem como pessoa, é necessário devolver-lhe a consciência crítica. É importante que, através do diálogo e da relação com o outro, o homem tome conhecimento das opções que tem e dos compromissos que pode manter. Desta forma, o homem terá mais possibilidades de responder aos desafios criados pelas instituições políticas, sociais, culturais, económicas e educacionais.
Por isso, se se pretende afirmar os caminhos do humano, a opção passa por criar janelas de comunicação, por levar os homens a problematizarem o seu estado existencial e a comprometerem-se com uma acção transformadora e de mudança da estrutura social.
É essencial ampliar e ganhar apoiantes para estas formas de pensar, de ser, de sentir e de se comportar, deixando a lamúria, a passividade, a adaptação fatalista e resignada.
A realidade e os outros levantam-nos desafios, expõem-nos aos perigos de uma diversidade de vontades, de pretensões, de desejos e de valores que inevitavelmente nos obrigarão a decidir, a optar e a assumir posições.
É assim que temos de proceder se são os caminhos do humano que queremos que dominem e norteiem a sociedade humana e os seus diferentes ramos de actividade.