Conheci, num dos bons programas que ainda podemos ver na televisão, o “60 Minutos”, o artista e ativista chinês Badiucao. O dissidente chinês, conhecido como “Banksy da China”, teve a sua primeira exposição na Europa, na cidade italiana de Brescia, apresentando uma coleção de obras que denunciam a repressão e a censura do regime comunista chinês. A exposição teve um forte enfoque na gestão que a China fez da pandemia e houve uma tentativa “diplomática” de a aniquilar.
Tive a possibilidade, por estes dias, de visitar duas exposições que que dão corpo à Art In Protest. A exposição Umbrales: Cómo anudar el tiempo – Auf der Schwelle na IFA-Galerie (Stuttgart), organizada pela 15.ª Bienal de Artes Mediales de Santiago, que aborda as alterações, a incerteza e a fragilidade em que se encontram as nossas sociedades em tempos de crises complexas e globais. As obras expostas plasmam uma consciência coletiva que torna tangível a interconexão da vida e partem de vários momentos: os protestos nas ruas do Chile; as pessoas e as paisagens extenuadas pela exploração e industrialização, ruínas e vestígios de um mundo modernizado e acelerado. Das mensagens veiculadas pelas artistas Elisa Balmaceda, Claudia González Godoy, Barbara Marcel, Elektra Wagenrad e Florian Wust, retive uma frase-chave: “Organizar a Luta, Globalizar a Esperança”.
Na habitual visita ao Kunstmuseum Stuttgart, desta vez para visitar a exposição “Jetzt oder nie: 50 Jahre Sammlung LBBW”, fui surpreendido pela exposição Protest Bereitschaft: Zeitgenössischer Aktivismus zwischen Haltung und Stil (em tradução livre: Prontos para o Protesto: Ativismo Contemporâneo entre a Atitude e o Estilo). Na Alemanha, como em outros países europeus, existe uma longa tradição de protesto. Vários movimentos, mais ou menos radicais, amplificados pelas redes sociais, são parte integrante da cultura política do século XXI. Slogans, pins, crachás, faixas, barreiras, correntes humanas, vigílias, megafones, coletes amarelos, tochas e velas fazem parte da evidência estética dessa cultura de protesto.
A vontade e a liberdade de protestar são parte de uma democracia viva. Há uma ampla multiplicidade de culturas de protesto, mais ou menos radicais, mais ou menos organizadas, mais ou menos civilizadas. Vivemos tempos paradoxais, também no que diz respeito às formas de protesto. Bernardo Mendonça assinou no Expresso (30/12/2021) uma peça interessante “#culturadecancelamento: as novas vozes que querem silenciar outras”. Logo na introdução pode ler-se: “As redes sociais tornaram-se palco de um novo movimento que surgiu para despertar consciências sociais, denunciar abusos e preconceitos, abrir novas discussões e amplificar a voz de grupos mais oprimidos e injustiçados. Mas a chamada ‘cultura de cancelamento’ pode ter lados perversos e abrir mais trincheiras e ódios.”
Regresso à frase-chave – “Organizar a Luta, Globalizar a Esperança” – para lhe dizer, caro leitor, que me faz cada vez mais sentido, face a duas lutas em que me envolvi: Estatuto do Cuidador Informal e Velhice Não é Doença.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vai retirar a classificação de velhice como doença da CID-11, que entra em vigor em janeiro de 2022. A confirmação foi recebida pelo gerontólogo brasileiro Alexandre Kalache que comentou a decisão: “É uma grande vitória da sociedade civil”.
Começamos o ano com estas duas saborosas vitórias que contribuem, cada uma à sua dimensão, para globalizar a esperança e energizar quem não desiste de lutar por boas causas.
Bom 2022!