Onde e quando é que já vi isto?!

Uma coisa era uma legítima discordância política outra foi o insulto ignóbil contra ele, “picareta falante”, para depreciar o seu discurso político. A sua imagem de honestidade política foi posta em causa. Qual o crime? Tinha quebrado 10 anos de “cavaquismo”, em 1995, o que nunca lhe foi perdoado.

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  • 18:24 | Quinta-feira, 14 de Outubro de 2021
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O Eng. António Guterres, secretário-geral da ONU, consagrou a expressão, “É a vida”, não faltando hoje referências e elogios às suas qualidades e carácter.

Recordemos as palavras proferidas em 16 de Dezembro de 2001: — «Entendo que é meu dever, perante Portugal e os portugueses, evitar esse pântano político. Por isso mesmo pedirei ao senhor Presidente da República que me receba para lhe apresentar o meu pedido de demissão».

Não quero fazer de “patinho feio”, mas o hoje “bem-amado” já foi “mal-amado”. A “paixão pela Educação” foi glosada até ao limite. O “façam as contas” foi outro exemplo. Em nome da lucidez convém não esquecer o que foi dito, escrito e o que veio a seguir. O diálogo e a concertação social eram vistos como inércia. Os ditos “orçamentos limianos” foram um «erro político», por ele assumido. Contudo, a expressão, «evitar esse pântano político», teve uma manipulação grosseira, até à exaustão. O «pântano» era, pois, «o esgotamento de condições institucionais para poder governar», não se referia a «lamaçal» ou “lodaçal”. Uma coisa era uma legítima discordância política outra foi o insulto ignóbil contra ele, “picareta falante”, para depreciar o seu discurso político. A sua imagem de honestidade política foi posta em causa. Qual o crime? Tinha quebrado 10 anos de “cavaquismo”, em 1995, o que nunca lhe foi perdoado.

O que veio a seguir com Durão Barroso e Santana Lopes mostrou que o “pântano”, afinal, não era uma ficção. As tensões políticas na discussão do OE 2022 entre o “deve” e o “haver” não são diferentes dos anos anteriores, só que este ano há dois anexos: alterações ao código do trabalho e as mudanças no SNS. Esta perspetiva no OE/22 abriu uma nova era no debate político à esquerda. À esquerda trata-se de exigir mudanças na orientação política do trabalho e da saúde, dado o significado para o bem-estar da grande maioria da população. Acreditamos que, ainda que tarde e a más horas, as propostas virão a ser acolhidas pelo governo.

Lembrei-me hoje do poema de Luís de Camões, “Os Lusíadas”, que termina com a palavra “inveja”, como expressão de angústia. Esperemos que o clima vivido, face à complexidade do momento e das tarefas a cumprir, não dê lugar à acidez.


Termino como comecei, “é a vida”.

 

(Foto DR)

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Publicado em Opinião