OFFSIDE
Todos estamos recordados da desilusão sentida por muitos viseenses, quando receberam a notícia das cidades escolhidas para receberem jogos do Euro 2004. Muito se carpiu e zurziu, alegando a marginalização do interior do país, entre outros argumentos, uns assertivos outros nem por isso. Os autarcas, das cidades escolhidas, fizeram a festa e acreditaram que […]
Todos estamos recordados da desilusão sentida por muitos viseenses, quando receberam a notícia das cidades escolhidas para receberem jogos do Euro 2004. Muito se carpiu e zurziu, alegando a marginalização do interior do país, entre outros argumentos, uns assertivos outros nem por isso.
Os autarcas, das cidades escolhidas, fizeram a festa e acreditaram que os investimentos nas infra-estruturas poderiam servir como âncora para o sonhado desenvolvimento. Para que não restem dúvidas, também eu, na época, fiquei desiludido com mais uma “oportunidade” perdida, depois do comboio, da universidade pública…
Hoje, passados dez anos da realização da prova, talvez os desiludidos (como eu) estejam convencidos de que foi o melhor que poderia ter acontecido. Paradoxo? Não, análise crua e dura do que aconteceu a uma boa parte dos estádios do Euro. Nem é bom falar dos clubes…
Ora vejamos: “Estádios construídos para o Euro 2004 deixaram autarquias endividadas. Recintos no Algarve, Coimbra e Aveiro estão ‘às moscas‘”. (Expresso)
Recordo este momento da história do futebol em Portugal porque dez anos depois, em 2014, realizar-se-á o maior evento de futebol, o Campeonato do Mundo, no Brasil, país irmão e do futebol. A equipa das quinas lá estará, tal como Scolari, o homem que fez um país orar e sonhar, mas sucumbiu na final com o golpe letal de Angelos Charisteas. Talvez os gregos tenham esgotado, naqueles 90 minutos, todo o plafond dos deuses do Olimpo e extenuado a Pitonisa! Nós, continuamos com o fado e o síndrome do “quase”.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, quem poderia imaginar que a organização da Copa do Mundo provocaria tantos amargos de boca a Dilma Rousseff ? Milhares de pessoas manifestaram-se nas ruas exigindo escolas, hospitais e transportes públicos de “qualidade FIFA”. Estão previstos investimentos na ordem dos 3200 milhões de dólares na construção / remodelação de 12 estádios. Os golos de Neymar e uma possível vitória do “escrete” no torneio “abafarão” os manifestantes e poderão ajudar a reeleger a “Presidenta” em Outubro?
Os grandes eventos desportivos sempre foram vistos pelos políticos como boas montras para a “propaganda”… Mas, esta realidade, em tempos de crise, parece estar a mudar: “Os grandes eventos desportivos converteram-se numa aposta arriscada” (Michael Reid). Note que, por exemplo, os Jogos de Inverno de Sochi, que contam com o maior investimento de sempre, já são considerados como um “monumento à corrupção”. Terá o investimento de Vladimir Putin o efeito contrário, em vez de revitalizar o país dos czares, trará à tona o nepotismo vigente e a cleptocracia?
Em tempos de crise, continuamos a assistir a investimentos de milhões por parte dos clubes que estão endividados até à última raiz do rectângulo verde onde se exibem os artistas. Já tem barba a ideia de que “sem dinheiro, não há artistas”, mas os valores envolvidos em muitas ligas, principalmente europeias, são ofensivos.
São cada vez mais as vozes que gritam contra estes gastos. Quando no “país do futebol” há manifestações que colocam em causa a realização do evento maior da FIFA, creio que o fiscal de linha deve levantar a bandeira e dar indicação de offside ao juiz da partida. Quanto a alguns líderes políticos, já é tempo de serem substituídos!