No passado dia 25 de Janeiro, perto de três centenas de pessoas (muito aquém das expectativas da organização) concentraram-se no Rossio de Viseu, numa manifestação convocada pela Liga de Amigos e Voluntariado do Centro Hospitalar Tondela Viseu, para protestar contra a demora na contratação das obras de ampliação do Serviço de Urgência do Hospital de Viseu, bem como pela instalação da unidade de radioterapia e do Centro Oncológico, reivindicações que têm década e meia de promessas adiadas por sucessivos governos.
A convocatória manteve-se mesmo depois da ministra da Saúde ter anunciado um novo concurso para as obras. O anterior foi anulado por atraso na respectiva contrapartida nacional por parte do Governo, que seria de pouco mais de um milhão de euros, sendo o restante garantidos pela CIM Viseu Dão Lafões, recorrendo a fundos comunitários, porque, entretanto, a empresa que ganhou o concurso alegou terem aumentado os preços orçamentados. Agora, o investimento sofrerá um acréscimo de 800.500 euros, passando para 6.460 mil euros. Ainda por cima, o carácter não urgente desta contratação levará a que o tempo previsto para a entrada em funcionamento do novo serviço de urgências seja de um ano e meio, se não houver os habituais atrasos e contratempos, como lembraram nas suas intervenções, o presidente da Liga dos Amigos do Hospital, o presidente da CIM Viseu Dão Lafões e o presidente da CMV, Almeida Henriques.
A instalação de uma Unidade de Radioterapia e de um Centro Oncológico no Hospital de S. Teotónio do Centro Hospitalar Tondela/Viseu é uma antiga reivindicação dos viseenses, conforme se prova pelas várias moções aprovadas por unanimidade na Assembleia Municipal de Viseu. Em Fevereiro de 2016, a Assembleia Municipal de Viseu aprovou, também por unanimidade, uma moção que eu próprio apresentei, enquanto eleito do Bloco de Esquerda, para “manifestar ao senhor Ministro da Saúde a necessidade da instalação urgente e sem mais protelamentos da Unidade de Radioterapia no Centro Hospitalar Tondela/Viseu, o estabelecimento do Serviço Nacional de Saúde com maior capacidade técnico-científica e melhor centralidade geográfica para acolher esta unidade, de acordo com o Estudo da Entidade Reguladora da Saúde, publicado em 2012”. Nessa moção fazia o historial desta “novela”:
Em 3.09.2004 (há quase dezasseis anos), o Conselho de Administração do Hospital de S. Teotónio solicitou ao Ministro da Saúde a instalação de uma unidade de Medicina Nuclear e de Radioterapia, nos terrenos cedidos para o efeito; em 17.12.2004, o Ministro da Saúde autorizou, por despacho, a criação de uma unidade de Medicina Nuclear no Hospital de S. Teotónio, em regime de ambulatório, e outra no Centro Hospitalar da Cova da Beira; em 2010 (há 10 anos), a Administração Regional de Saúde do Centro apresentou ao Ministério da Saúde um projecto para a criação do Centro Oncológico em Viseu, com unidade de Radioterapia e Medicina Nuclear; em 2012, um Estudo da Entidade Reguladora da Saúde concluía que a instalação de dois Aceleradores Lineares no Centro Hospitalar Tondela/Viseu, em alternativa ao da Cova da Beira, aumentaria a cobertura relativamente aos limites do tempo de viagem entre a residência do utente e o estabelecimento hospitalar, em 87% a nível nacional e em 77% a nível da Região Centro; em 2013, o Ministro Paulo Macedo (PSD) considerou que a Unidade de Radioterapia teria de ceder o passo a outros investimentos mais prioritários.
No entanto, dois meses depois de esta moção ter sido aprovada por unanimidade, o presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, “o grande facilitador”, chegou a anunciar, na Assembleia Municipal, com enorme júbilo, ter garantias por parte do governo de que a unidade de radioterapia viria para Viseu… para o Hospital da CUF. Perante os meus protestos, respondeu que tanto lhe fazia que viesse para um hospital público como para um privado, desde que os utentes pagassem o mesmo. Ora, os utentes acabam sempre por pagar mais. Se não for directamente, será por via dos impostos.
Em Julho de 2017, o Secretário de Estado da Saúde, prometeu que as obras iniciariam ainda naquele ano e que a valência entraria em funcionamento em 2019.
Almeida Henriques aproveitou a concentração com o único deputado eleito por Viseu presente, Pedro Alves, do PSD. Acontece que este deputado à AR, também eleito na AM de Viseu, e presidente da Distrital do PSD, tinha dito à imprensa que também não estaria presente, por a Liga dos Amigos do Hospital (que Almeida Henriques já uma vez insultara alcunhando-a de “os amigos de Peniche”) ter vindo a defender este Governo e esta Administração”. Alguém lhe puxou as orelhas ou ele próprio se apercebeu da argolada que cometeu. Por eleger autarcas e deputados como estes é que a nossa região tem sido constantemente esquecida pelos governos. E o governo de Costa, apesar de ter contemplado no Orçamento de Estado um reforço de 800 milhões para a Saúde, conforme exigido pelo BE, ainda está longe de suprir o subfinanciamento crónico do Serviço Nacional de Saúde que tem levado à degradação das condições de trabalho dos seus profissionais e do atendimento aos utentes. O SNS não tem cativações directas, porque a lei do Orçamento não o permite, mas as instituições de saúde perderam autonomia face ao controlo apertado do Ministério das Finanças. Poupar na Saúde sai sempre mais caro, como se vê no hospital de Viseu, e acabará por provocar uma doença crónica, ou mesmo incurável, do SNS.