Os Verões de Salazar não passavam sem uma ida à terra natal. O seu biógrafo escreve que o ditador tencionava demorar-se no Vimieiro e, sem perder o contacto com a realidade política, restabelecer-se do estado enfermiço que o tomara.
Franco Nogueira descreve o seu estado de espírito nos seguintes termos: «o chefe do governo desabafa no plano pessoal: está farto, está saturado, pesa-lhe o fardo do poder: porque não há-de abandoná-lo?» Quer mesmo que lhe responda? Porque não vive sem o poder, e para o seu usufruto criou a repressão. Aquilo são fogachos que ele lança aos colaboradores íntimos para lhes testar a fidelidade.
Em 9 de Outubro, ainda se encontrava na aldeia a cuidar das vindimas. Na madrugada do dia seguinte, recebeu, por telefone, a notícia de que uma formação militar amotinada saíra do Porto e se dirigia para sul. O pobre primeiro-ministro, em vez de aproveitar a ocasião para se demitir, já que se encontrava derreado pelo peso do poder, correu para Lisboa, num automóvel, para tomar medidas que preservassem o regime e a sua autoridade. Enviou tropas contra os revoltosos. O encontro deu-se na Mealhada. Por causa disso, o episódio ficou conhecido por revolta da Mealhada.