Da semana que passou, retenho três factos que considero de alguma importância, no domínio do simbólico.
Vindo de uma representação única, a nível de secretário de estado, o distrito deve saudar este reforço, sendo que ele só será relevante se o desempenho dos empossados for profícuo e livre de manchas. De qualquer forma, e para começar, reflecte uma atenção mais cuidada a este distrito, tão deslembrado pelos governos precedentes. Talvez nunca tantos conterrâneos de puro sangue tenham estado na governação, e isso, independentemente dos emblemas e dos cartazes, não deixa de ser um bom sinal. Esperemos que as esplanadas da Praça do Comércio não lhes transfiguem a alma beiroa, não os transformem nuns diletantes sacudidos de maturidade e profundidade no manejo da arte política. E que a maresia a cheirar a podre, que chega do Cais das Colunas, não os estrague na limpeza dos procedimentos.
O primeiro ponto negativo vem do Partido Socialista. A ausência do seu secretário-geral, na cerimónia da tomada de posse do executivo, na passada terça-feira, devia ser impraticável. Era imperativo que o líder do maior partido da oposição estivesse presente. A democracia também vive de coreografias. E tem rituais, uns mais solenes do que outros, que todos os políticos avisados devem cumprir, reservando o seu lugar. Mesmo que isso lhes seja penoso e muito desconfortável. Mesmo que lhes custe o sossego e a tranquilidade. O não cumprimento destes cerimoniais torna as relações oleosas. Acresce que fazer-se representar não é a mesma coisa. As responsabilidades não se delegam, e a representação partidária é uma responsabilidade e não uma competência, no meu humilde entender.
O segundo ponto infeliz veio de Montenegro. Se o PM quer contar com o PS, não pode zurzir no maior partido da oposição, logo que inicia funções. Com isso, pode alimentar a caserna ululante, mas deslustra a formatura que reclama decência. Pode dar um sinal de vigor, mesmo prematuro, mas pode estilhaçar o breve estado de graça. Não precisava de tanto na tomada de posse. Foram alfinetadas a mais. Ficou-lhe mal. Não tem força para ser arrogante. Se quer dançar, e vai precisar de o fazer, não pode pisar o par, nem estreitar a pista. É dos manuais. Alguém que lhe explique essa coisa básica e comezinha. Uma leitura aprofundada de “O príncipe” não lhe calhava mal.
(Foto GP)