O raio das ligações

O exemplo de que o futebol segue os parâmetros da política confirma-se na notícia recente de um jornal desportivo. Filipe Vieira "quer criar condições para que Jesus saia pelo próprio pé", isto é, sem indemnização e com uma cínica lauda encomiástica na despedida. E no mesmo dia o presidente encarnado reitera confiança, afastando o cenário da saída próxima do técnico. Entretanto, já o sucessor deve estar, se não contratado, no mínimo, apalavrado.

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  • 22:43 | Quarta-feira, 26 de Maio de 2021
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As ligações entre futebol, política e os industriais do imobiliário sempre tiveram o seu quê de subterrâneo, largando fumaças e vapores que indiciavam óleos e favores, por mais que os protagonistas vestissem chadri e invocassem virgindade à prova de bala.

As investigações esparsas vieram desmontar o polvo cujos tentáculos estrafegavam os corpos mais dados à refrega dos dinheiros. São raras as excepções a este padrão, que se ficam, invariavelmente, pelos neófitos, ainda aprendizes destas artes sedutoras. O tempo dirá a massa de que são feitos e as botas que trazem calçadas, de biqueira larga ou de aço. É o mesmo que dizer para que lado tombam. Se resistem ou sucumbem. Se forem de confiar, até trazem protectores nas solas.

O exemplo de que o futebol segue os parâmetros da política confirma-se na notícia recente de um jornal desportivo. Filipe Vieira “quer criar condições para que Jesus saia pelo próprio pé”, isto é, sem indemnização e com uma cínica lauda encomiástica na despedida. E no mesmo dia o presidente encarnado reitera confiança, afastando o cenário da saída próxima do técnico. Entretanto, já o sucessor deve estar, se não contratado, no mínimo, apalavrado.

Agora, como exercício lúdico, tipo palavras cruzadas ou sopa de letras, encontre o paciente leitor as diferenças entre um PM que quer desfazer-se de um ministro incómodo, atribuindo-lhe um ministério cheio de minas e armadilhas, sem ficar com o ónus da atitude, renovando provas de confiança antes de uma inevitável remodelação.


Como exercício final, faça de contas que Filipe Vieira é António Costa e que Jorge Jesus é Pedro Nuno Santos. Se ajuizar com atenção, não haverá de notar muitas diferenças. O certo é que, enquanto a comunicação social e os comentadores não se calarem, os treinadores ficam e os ministros também não saem. Depois, logo se verá. É dos manuais.

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Publicado em Opinião