As ligações entre futebol, política e os industriais do imobiliário sempre tiveram o seu quê de subterrâneo, largando fumaças e vapores que indiciavam óleos e favores, por mais que os protagonistas vestissem chadri e invocassem virgindade à prova de bala.
O exemplo de que o futebol segue os parâmetros da política confirma-se na notícia recente de um jornal desportivo. Filipe Vieira “quer criar condições para que Jesus saia pelo próprio pé”, isto é, sem indemnização e com uma cínica lauda encomiástica na despedida. E no mesmo dia o presidente encarnado reitera confiança, afastando o cenário da saída próxima do técnico. Entretanto, já o sucessor deve estar, se não contratado, no mínimo, apalavrado.
Agora, como exercício lúdico, tipo palavras cruzadas ou sopa de letras, encontre o paciente leitor as diferenças entre um PM que quer desfazer-se de um ministro incómodo, atribuindo-lhe um ministério cheio de minas e armadilhas, sem ficar com o ónus da atitude, renovando provas de confiança antes de uma inevitável remodelação.
Como exercício final, faça de contas que Filipe Vieira é António Costa e que Jorge Jesus é Pedro Nuno Santos. Se ajuizar com atenção, não haverá de notar muitas diferenças. O certo é que, enquanto a comunicação social e os comentadores não se calarem, os treinadores ficam e os ministros também não saem. Depois, logo se verá. É dos manuais.