Neste tempo, o racismo em Portugal continua a existir e a matar. Negá-lo é o início do problema, negar o racismo em Portugal é o que abre portas para que casos como o de Alcino ou de Bruno sejam factos.
Por muito que seja duro assumi-lo, vivemos num país que reflecte institucional e estruturalmente uma matriz racista, num país que se recusa a enfrentar o seu passado e o seu presente racista, num país em que práticas racistas são ainda socialmente toleradas, normalizadas e relativizadas.
Portugal é o país onde, em plena Assembleia da República, um Deputado de extrema-direita diz a uma Deputada negra “para ir para a sua terra”.
É o país em que expressões como “preto/a vai para a tua terra”, “é preto/a, mas…” ou “tanto aperto a mão a um branco como o pescoço a um preto” são discurso corrente e até jocosamente aceite.
E ainda não referi os inúmeros casos de violência policial contra pessoas racializadas ou imigrantes; ou a discriminação no acesso à educação, à habitação e ao emprego de comunidades consideradas minoritárias.
Portugal vive o mito do não racismo, mas recontar e prolongar este mito, negando um problema com consequências graves, só contribui para que daqui a 25 anos continuemos a debater a questão nos mesmos termos.
Este caminho é o que se está a construir, mas que precisa ainda de muita mão de obra para que ecoe mais fortemente na sociedade e instituições portuguesas. Portugal, mais uma vez, será este fim-de-semana o país que se une, que exige justiça e igualdade, que sairá à rua para reivindicar o fim da violência racista e xenófoba.
Num número que cresce a cada hora de cidades irão ocorrer manifestações anti-racistas, vigílias e actos simbólicos, pois negar e ignorar só serve para engordar o problema. Beja, Coimbra, Lisboa, Braga, Évora, Guimarães, Porto e também no Rossio de Viseu, onde vou estar em vigília no sábado às 18:00.
Tem que se fazer cumprir, de vez, o artigo 13º da Constituição que consagra a igualdade de todas as pessoas perante a lei e prescreve que “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica , condição social ou orientação sexual.”