O PCP vai matar a CGTP

O problema é que já não há paciência para uma estrutura que teima em situar-se na Revolução de Outubro de 1917, que rejeita assinar acordos, que acha que a Inteligência Artificial é o antigo poder do capital da era da Revolução Industrial. Ler as teses, que foram levadas ao último congresso, é aterrador.

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  • 22:00 | Domingo, 26 de Maio de 2024
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O debate político mais recente centrou-se muito no papel que o 25 de novembro de 1975 teve na consolidação da democracia pluralista que hoje vivemos. Mas o período pós-revolucionário não opôs o PS e o PCP só no que dizia respeito ao tipo de regime, foi muito mais longe.

Na segunda metade da década de 1970, Mário Soares e Salgado Zenha combateram os comunistas no que se considerou a luta contra a unicidade sindical. Tal era a tentativa de controlar os movimentos dos trabalhadores, fazendo deles veículos do marxismo-leninismo.

Foi criada a União Geral de Trabalhadores que passou a agregar sindicatos que eram dirigidos maioritariamente por socialistas e/ou sociais democratas, entidades que se reuniam, maioritariamente, nos setores das administrações públicas e dos serviços.

O Partido Socialista nunca deixou, porém, de ter uma presença relevante na CGTP. Pelos resultados eleitorais poderemos mesmo dizer que os socialistas são, sempre terão sido, maioritários nos sindicatos, mesmo que nunca o tenham sido nas suas direções e, por essa via, nas estruturas centrais da CGTP.


Durante quatro décadas, a Comissão Executiva da CGTP integrou, sempre, representantes da corrente socialista, até que, depois do último congresso da central, tudo mudou.

Quando o PCP quase desaparece, a CGTP fica mais sectária, agarra-se aos comportamentos estalinistas e barre socialistas e bloquistas dos espaços de decisão.

Mas não foi só isso. Os socialistas foram sempre uma voz presente na Concertação Social, na formação profissional e nos movimentos europeus através da Intersindical, mas, por estes dias, deixaram de ser. A representação da CGTP, na mesma Concertação, é monocolor, assumida pelos comunistas ortodoxos e por gente próxima.

Há muito tempo que se nota uma forte queda na capacidade de mobilização da CGTP. Em primeiro lugar, porque a progressiva redução da presença autárquica comunista também reduz o número de autocarros a transportar. Mas o central é que os manifestantes profissionais são, no tempo corrente, pessoas mais idosas que já dizem pouco ao mundo do trabalho e às grandes questões que a nossa sociedade impõe.

O Partido Comunista é hoje um grupo de deputados pouco relevantes onde só António Filipe tem um palco. Mas, para se manter vivo no palco nacional, precisa dos meios dos sindicatos. Está, assim, a canibalizar os recursos dos trabalhadores filiados na CGTP.

Neste cenário, “expulsa” os socialistas, bloquistas e independentes da Executiva, aproveita o que pode para manter os caciques e espera viver mais uma década.

O problema é que já não há paciência para uma estrutura que teima em situar-se na Revolução de Outubro de 1917, que rejeita assinar acordos, que acha que a Inteligência Artificial é o antigo poder do capital da era da Revolução Industrial. Ler as teses, que foram levadas ao último congresso, é aterrador.

Os sindicalistas do PS deveriam deixar bem clara a sua oposição. Não só a Corrente Socialista, que o tem feito, mas mesmo os dirigentes nacionais. Só assim se poderá indicar, aos muitos votantes socialistas que são sindicalizados na CGTP, que o caminho que está a ser seguido é arriscado e poderá levar à ruína da Intersindical.

 

Ascenso Simões

 

(Foto DR)

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Publicado em Opinião