O PCP, quase um século de luta

Também as gerações que nas últimas três décadas têm aterrado na política, maioritariamente por profissão que não por missão, por clubismo que não por convicção, por arrivismo que não por cidadania, se convertem em factores desse descrédito.

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  • 18:37 | Terça-feira, 08 de Dezembro de 2020
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Não tenho qualquer filiação partidária. Tal, concede-me um estatuto de equidistância face aos actuais partidos políticos, assim como aos seus dirigentes.

Independentemente das minhas pessoais empatias, comuns a todo o cidadão interventivo no exercício livre e activo da sua cidadania, nos dias que correm, o total afastamento das matrizes ideológicas que estiveram na génese de credos e crenças, trouxe-me a um suprapartidarismo e a um cepticismo insuperável. Ou falta de fé nos actuais cidadãos da polis

Também as gerações que nas últimas três décadas têm aterrado na política, maioritariamente por profissão que não por missão, por clubismo que não por convicção, por arrivismo que não por cidadania, se convertem em factores desse descrédito.


Porém, há partidos que nos merecem respeito, não naturalmente isento de críticas, e dirigentes que merecem reconhecimento. O Partido Comunista Português é um deles e Jerónimo de Sousa outro.

O primeiro pelo seu passado de luta contra o regime fascista, desde a sua fundação em 1921. Luta incómoda, luta intranquila e perigosa, senão fatal para muitos comunistas, torturados, presos, mortos, perseguidos e aos seus familiares pelos esbirros da pide, a famigerada polícia de intervenção e defesa do estado, um estado que se mantinha, década após década, pela repressão, opressão, censura, coerção das liberdades e supressão física dos opositores.

Essa pugna em prol de uma ideologia que convictamente mantém no tempo, faz do PCP uma pedra angular da História da Democracia portuguesa. Mas, mais do que isso, trata-se de um partido que sempre esteve ao lado e lutou pelos oprimidos, pelos explorados, pelos mais fracos e mais frágeis, os mais desprotegidos de um destino ingrato. A maioria do povo português…

E, ano após ano, a sua luta continua com a persistência de sempre, por vezes até alheios aos ventos de modernidade e de mudança, de evolução e de adequação à vertiginosa mutabilidade, que é sempre uma mutação acelerada. Mesmo e se para muitos, a retórica comunista seja uma “cassete gasta” e puída pelo tempo, prevalece pela sua constância e fidelidade aos princípios – coisa em desuso na maioria dos outros partidos.

A coerência do dirigente do PCP, Jerónimo de Sousa, confronta-se positivamente com o vai-e-vém ligeiro e leviano da maioria dos restantes líderes por aí abundantes em partidos actuais, partidos sem história e cueiros pouco limpos, onde o bruáá histérico, populista e demagógico se tornou em força e exclusiva razão de ser e de agir.

Jerónimo de Sousa, sucessor de Álvaro Cunhal e Carlos Carvalhas, é merecedor de respeito pelo seu percurso de vida, por uma vida dedicada à luta política, pelo seu rigor, disciplina e intransigência para com os modismos de última hora e de circunstância, que hoje a esmo pontificam.

O PCP, obsoleto também nalgumas facetas, com provadas dificuldades de renovação, com discutíveis alinhamentos internacionais, com a sua ortodoxia marxista, mantém-se igual a si próprio. E em tempos de feérica mudança, paga por isso e talvez aí se encontre a explicação dos resultados que nas últimas sondagens lhe conferem 5,8% das preferências dos portugueses, conservadores e acolhedores do melodioso canto das sereias de circunstância.

Por isso, ouvir o esganiçamento das tribos em certos momentos da vida política nacional, deveria merecer-nos ponderação e deveria levar-nos a questionarmo-nos acerca dos percursos trilhados pelos neófitos messias por aí saracoteantes, e acerca das provas dadas em prol do que quer que seja, para além do bolorento mofo exalado de muitos gavetões de “sacrossantas sacristias” temporária e comodamente hibernadas.

 

(foto DR)

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Publicado em Opinião