Podia ter sido tudo diferente. Pois podia! Mas o Porto, o Partido Socialista do distrito do Porto vive, há muito tempo, um jogo de sombras e uma ausência de sentido estratégico.
O Partido Socialista do Porto não diz só respeito a este círculo eleitoral. Diz, desde logo, respeito a uma região que influencia e que devia liderar. Ora, o PS do distrito do Porto perdeu essa capacidade, mergulhou primeiro numa visão grupal e, depois, numa estagnação de um umbiguismo que poucas vezes se havia visto.
O PS tem a norte uma responsabilidade enorme – dar voz à sociedade viva e dinâmica que não depende do país dos subsídios para viver, que arrisca, que incomoda, que não se fica. Do mobiliário aos têxteis, da construção às novas tecnologias, das madeiras aos polímeros, há, todos os dias, nova gente que só precisa que falem a sua linguagem e que desamparem a loja.
O Porto, para quem sempre teve esta cidade como referência, perdeu-se em 2001 e ainda não se encontrou. Se Rui Rio apostou numa gestão de mangas de alpaca, coisa que em muitas circunstâncias pega neste país onde há imensos “botas”, o Rui recente foi uma deceção absoluta, uma ausência de sentido e de visão que resulta de um estatuto mais do que de uma eleição.
Podia ter sido diferente. Pois podia! O PS do Porto podia ter tido outros candidatos, mas para isso era preciso que houvesse quem olhasse sem palas e quem “tivesse tomates”. Ora, os lojistas da situação guerrearam e os que se propunham ficaram nas encolhas. São estes comportamentos que irritam os cidadãos e descredibilizam os partidos.
À trapalhada de um candidato que não poderia ser (ainda hoje não adivinho o racional de retirar do governo uma personalidade que tem feito um bom lugar para o fazer entrar na boca do lobo) abriu as portas para um novo PS. Nada, daqui para a frente, será como dantes, mudou a geração, mudou a política, mudou a visão de cidade, mudou a estratégia de alianças, mudou o posicionamento da oposição. Tudo ficou claro e ainda vai ficar mais claro.
Tiago Barbosa Ribeiro (TBR) veio do Bloco de Esquerda, é um dos quadros políticos mais competentes que o PS tem nas novas gerações. Frugal, incansável, ideologicamente sustentado, ganhou uma nova vida de compromisso nos últimos anos de parlamentar. Por isso, esta candidatura não é um intervalo, é o início. Importa que todos os protagonistas políticos do Porto incorporem esta nova realidade, sem cedências, com um caminho, pragmática não em saldo.
Ao escolher Alberto Martins para liderar a Assembleia Municipal, TBR soube bem o que importava – sustentar a juventude com o traquejo e a história. Para além de Martins só poderia ocupar este lugar, dentro do PS, Augusto Santos Silva, por agora impedido. Mas o anúncio de que José António Barros seria o mandatário da candidatura, trouxe mais Porto ao Porto de TBR e ao PS, abrindo e crescendo em franjas partidárias que não se acantonam à esquerda.
Eu gosto de ver o Porto ser Porto. Não gosto muito de ver TBR a correr sozinho, como muitas vezes faz, semelhança com António Costa que não me parece das melhores. Mas também gosto de ver o Porto a renascer para implicar o norte e o país. Precisamos de deixar o dolce far niente que está crescendo e criar desassossego. No Porto vai começar.
(foto DR)