O nosso maior problema é a capacidade de atrair investimento

Os números são muito claros (ver “Relatório Social do Concelho de Coimbra - 2018” no site da Câmara Municipal de Coimbra) e, por muito que os torturem para que confessem uma realidade diferente, a verdade é que mostram um cenário muito negro.

  • 14:29 | Sábado, 13 de Julho de 2019
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Os números são muito claros (ver “Relatório Social do Concelho de Coimbra – 2018” no site da Câmara Municipal de Coimbra) e, por muito que os torturem para que confessem uma realidade diferente, a verdade é que mostram um cenário muito negro.

De facto, Coimbra tem vindo a perder população (- 4% entre 2001 e 2011, perdendo cerca de 500 pessoas por ano) em contraciclo com o país (+2% no mesmo período), especialmente jovens (-13% de jovens entre os 0 e os 14 anos, quando em Portugal o decrescimento foi de 5% e na região centro de 9%, e -31% de jovens entre os 15 e os 24 anos), vê o seu índice de envelhecimento subir fortemente para valores muito superiores à média nacional e regista ainda resultados medíocres na atividade económica e na criação de emprego.

Ou seja, Coimbra não é um local competitivo para iniciativas económicas e empresariais diferenciadoras, o que constitui um ciclo-vicioso com efeitos muito evidentes na degradação das condições da cidade, mas também na relevância da região. Sem empresas não há emprego. Sem iniciativas âncora não há dinâmica. Sem tudo isso não somos atrativos para pessoas e projetos empresariais que fazem a diferença e criam oportunidades.


Não querendo tomar uma atitude cómoda de crítica sem apresentar propostas, dou comigo a perguntar se é evidente o que Coimbra tem de fazer para mudar este estado de coisas?

Que iniciativas teria Coimbra de tomar para melhorar a sua performance económica e empresarial?

Existe algo de particularmente evidente que deveria ser feito?

Em 2007, quando arranquei com o iParque, pensei que o essencial era demonstrar que a cidade e a universidade eram parceiras estratégicas e baseei nisso grande parte das decisões que tomei. Considerei que isso tinha uma dimensão estratégica formidável, nomeadamente porque seria uma forma de construir um plano de afirmação que nos poderia diferenciar. Teria, no entanto, de ser uma estratégia mista, isto é, com uma vertente de incubação de novas ideias de negócio e outra, de igual importância, de atração e fixação de iniciativas diferenciadoras que pudessem ser âncora de outras iniciativas, catalisando assim um desenvolvimento mais acelerado.

Doze anos depois, olhando para o estado do iParque e da cidade, que são consequência de falta de atitude e de falta de empenhamento, é óbvio que o problema é bastante mais grave e precisa de medidas urgentes (quase desesperadas) para ser invertido.

Se tivesse de decidir, apostaria tudo numa mudança radical de atitude das entidades que gerem a cidade e região, tornando essa mudança visível e efetiva.

A cidade/região de Coimbra tem de montar urgentemente uma estratégia que a prepare para o investimento, divulgue a nova atitude (proativa, empenhada, realista, preocupada, informada e com capacidade de influência) e coloque no terreno os mecanismos que permitam atrair investimento e acompanhar a sua realização.

Um investidor quer ver uma atitude empenhada, precisa de percecionar de imediato que a região se preparou e tem de reconhecer nos interlocutores os parceiros certos para o investimento. Tem de se convencer que Coimbra é o local certo, onde encontra os recursos humanos que precisa e tem o apoio necessário e empenhado para consigo iniciar uma tarefa empresarial.

Consequentemente, Coimbra precisa de uma iniciativa sistemática e organizada de promoção, atração e acompanhamento de investimento que mude radicalmente a imagem pública da cidade/região. Essa é uma tarefa urgente e crítica e talvez seja o maior problema que temos em mãos.

É para mim completamente incompreensível que não seja encarado como prioritário pela população, nas escolhas que faz, mas também por aqueles que têm a missão de planear e gerir a cidade/região. Ter a noção de que essas entidades não se apercebem sequer do problema, dada a total alienação relativamente a estes assuntos, é muito desanimador e preocupante.

Recomendo por isso que nas próximas eleições, incluindo as legislativas, não votem em nenhuma lista, seja ela partidária ou não, que não coloque esse problema e as respetivas propostas de solução em 1º lugar no seu manifesto eleitoral.

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Publicado em Opinião