Todos concordamos que sim. Mas a verdade é que os conflitos em jogos da formação não param. São frequentes as contestações dos adultos, sem razão que as justifique. Há protestos porque o árbitro apitou, porque o árbitro não apitou, porque o adversário foi mais impetuoso num lance, porque o treinador não colocou o filho a jogar mais cedo, ou porque o tirou do jogo cedo demais, porque o colocou a jogar numa posição diferente, porque a culpa é sempre do avançado, porque o filho, sendo guarda-redes, nada poderia fazer para evitar o golo sofrido, ou porque, como avançado, não marca sem a ajuda dos colegas, porque a falta era claríssima… e por aí fora.
Ao mesmo tempo que se proclama – e bem – que a formação deve centrar-se no desenvolvimento da coordenação motora, na aprendizagem e compreensão do jogo, na evolução técnica e tática, no conhecimento das regras e no comportamento ético dentro do campo, a realidade mostra-nos outro lado. O que ouvimos com frequência é uma verdadeira batalha verbal (“são todos uns ladrões”, “vai para a barraca”, “parte-lhe uma perna”, “vai para a tua terra, ó palhaço!”) que caracteriza o “jogo” dos pais na bancada. A primeira frase agressiva dá o tom, e daí em diante é um escalar de provocações e ofensas, numa espécie de competição de quem é mais “engraçado” ou mais ofensivo. E porque ninguém se acha merecedor de correção – pois acredita que sabe tudo e que o seu comportamento não precisa de ser revisto –, esta escalada de agressividade só termina (e nem sempre) com o apito final do árbitro. Este é, sem dúvida, o desafio mais difícil de ultrapassar: ajudar estes adultos a reconhecerem a necessidade de mudar a sua postura.
Acredita-se que os pais que assistem a formações sobre ética e integridade são os que menos comportamentos insultuosos e agressivos têm na bancada. Se os adultos fossem estimulados a conhecer opiniões dos praticantes acerca dos seus comportamentos iriam ouvir: “não grites tanto”, “deixa-me jogar em paz”, “só me envergonhas”. Ou seja, a melhor forma de lutar contra a violência e a falta de respeito dos pais no desporto de formação é eles verem-se através dos olhos dos seus filhos e perceberem o péssimo exemplo que lhes estão a dar. Pensem nisso!
Vitor Santos
Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto