O mealheiro

Depois, são as promessas que estão fresquinhas, e convém cumprir, sem encontrar desculpas esfarrapadas que fazem dos políticos uns tontos e do povo um mentecapto. Se se esquecer, o governo minoritário, acossado à esquerda e à direita, que o apertam sem dó numa tenaz, irá ver o povo sair à rua, reclamando o seu cumprimento.

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  • 13:11 | Segunda-feira, 01 de Abril de 2024
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Foi uma semana passada inteira a falar-se sobre a composição do governo, especulando-se primeiro sobre os possíveis nomes, criticando-se depois por a São Caetano à Lapa se ter mudado para São Bento, por haver pouca sociedade civil nos ministérios, por haver muito pouca experiência governativa entre os seus membros, por a paridade não ser cumprida, por nenhum ministro o ter sido antes, por ser excessivamente aparelhístico.

Sendo relevantes os nomes, que podem reflectir um padrão de idoneidade ética do executivo, fazer aumentar a sua credibilidade política, factores importantes para as instituições externas, para os mercados e para  o estender do seu estado de graça, não são, porém, o mais determinante.

Com um governo que todos perspectivam ter uma vida curta, pedir mais talvez fosse exigir muito. Se houvesse um horizonte largo pela frente, talvez outros “galos”, lutando na capoeira, se chegassem à dianteira. O que importa é o caderno de encargos que os espera, a partir de amanhã, e a determinação que cada um vai emprestar ao seu fazer.

É a pacificação das escolas e a devolução do tempo de serviço congelado aos professores, a atribuição do subsídio de risco aos profissionais de segurança, o programa de emergência para a saúde, em 60 dias, a direcção executiva do SNS, a substituição da PGR, a localização do aeroporto, a privatização da TAP, o nó da habitação, a aceleração do PRR e a gestão do programa 20/30.


Depois, são as promessas que estão fresquinhas, e convém cumprir, sem encontrar desculpas esfarrapadas que fazem dos políticos uns tontos e do povo um mentecapto. Se se esquecer, o governo minoritário, acossado à esquerda e à direita, que o apertam sem dó numa tenaz, irá ver o povo sair à rua, reclamando o seu cumprimento.

Os médicos, os professores, as forças de segurança, os oficiais de justiça, a quem muito foi prometido, não tardará muito baterão à porta de São Bento, querendo ouvir o que têm para lhes dar.

Interpretando mal o excedente deixado pelo governo socialista, os portugueses ignoram que esse 1.2%, 32.2 mil milhões de europeus só pode ser utilizado para amortizar a dívida, o que conduz a menos encargos com juros e a maior margem de manobras na elaboração de futuros orçamentos, e não pode ser aplicado para suportar despesa pública com as corporações citadas.

Estando inculcada no espírito dos portugueses a ideia de que a folga orçamental é o alfa e o ómega das contas públicas, caberá ao governo desmontar este ardil dos cofres cheios e do mealheiro gordo que na generalidade se supõe poder satisfazer todas as reivindicações salariais.

Com estas condicionantes, não vai ser fácil cobrir o tronco sem destapar os pés. Para fazer a quadratura do círculo, vai ser necessário muita arte, mas por vezes, quando a tarefa é de muita monta e a luta tem raízes, só o talento e as boas intenções não chegam.

Apaziguar este descontentamento explosivo, que o governo anterior, num erro político grosseiro, deixou inexplicavelmente engrossar, será com certeza a prioridade de Luís Montenegro, se pelo caminho uns tantos políticos de segunda categoria não o desviarem para tacticismos interesseiros e clientelares.

Entretanto, o provável regresso do trauliteiro e bastardo Almeidinha ao Parlamento, negociado na sombra, por detrás dos cortinados, à custa de arranjinhos oportunistas, que sacrificam seus companheiros de jornada e ressuscitam amiguismos serôdios e requentados, não augura nada de bom para a saúde desta coligação.

Veremos…

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