Foi uma semana passada inteira a falar-se sobre a composição do governo, especulando-se primeiro sobre os possíveis nomes, criticando-se depois por a São Caetano à Lapa se ter mudado para São Bento, por haver pouca sociedade civil nos ministérios, por haver muito pouca experiência governativa entre os seus membros, por a paridade não ser cumprida, por nenhum ministro o ter sido antes, por ser excessivamente aparelhístico.
Sendo relevantes os nomes, que podem reflectir um padrão de idoneidade ética do executivo, fazer aumentar a sua credibilidade política, factores importantes para as instituições externas, para os mercados e para o estender do seu estado de graça, não são, porém, o mais determinante.
É a pacificação das escolas e a devolução do tempo de serviço congelado aos professores, a atribuição do subsídio de risco aos profissionais de segurança, o programa de emergência para a saúde, em 60 dias, a direcção executiva do SNS, a substituição da PGR, a localização do aeroporto, a privatização da TAP, o nó da habitação, a aceleração do PRR e a gestão do programa 20/30.
Depois, são as promessas que estão fresquinhas, e convém cumprir, sem encontrar desculpas esfarrapadas que fazem dos políticos uns tontos e do povo um mentecapto. Se se esquecer, o governo minoritário, acossado à esquerda e à direita, que o apertam sem dó numa tenaz, irá ver o povo sair à rua, reclamando o seu cumprimento.
Os médicos, os professores, as forças de segurança, os oficiais de justiça, a quem muito foi prometido, não tardará muito baterão à porta de São Bento, querendo ouvir o que têm para lhes dar.
Estando inculcada no espírito dos portugueses a ideia de que a folga orçamental é o alfa e o ómega das contas públicas, caberá ao governo desmontar este ardil dos cofres cheios e do mealheiro gordo que na generalidade se supõe poder satisfazer todas as reivindicações salariais.
Com estas condicionantes, não vai ser fácil cobrir o tronco sem destapar os pés. Para fazer a quadratura do círculo, vai ser necessário muita arte, mas por vezes, quando a tarefa é de muita monta e a luta tem raízes, só o talento e as boas intenções não chegam.
Entretanto, o provável regresso do trauliteiro e bastardo Almeidinha ao Parlamento, negociado na sombra, por detrás dos cortinados, à custa de arranjinhos oportunistas, que sacrificam seus companheiros de jornada e ressuscitam amiguismos serôdios e requentados, não augura nada de bom para a saúde desta coligação.
Veremos…