Nada do que se passa nas superpotências e nas grandes economias mundiais, mesmo nas emergentes, é indiferente a um país como Portugal, pequeno e periférico, muito dependente dos mercados externos e poroso quanto a ventos políticos que vão soprando a esmo.
Se feliz ou infelizmente, ando há uma vida a tentar descobrir, e não há meio de me decidir. A ideologia, ou o que resta dela, puxa-me para um lado, a “realpolitik” arreda-me para o outro. As noções ideológicas e as considerações práticas, num duelo de titãs.
Vêm ao caso as eleições norte-americanas, na próxima terça-feira, 5 de Novembro. A campanha, que as televisões nacionais cobriram com enviados especiais, foi ridícula e de um profundo mau gosto. Os americanos são muito pior do que eu imaginava: iletrados, pirosos, excessivos, histriónicos. Se ocorressem em Portugal metade dos episódios que os canais transmitiram, certamente que riríamos do triste espectáculo, apodando-os de pacóvio e do terceiro-mundo. Trump a fritar batatas e a viajar num carro do lixo é surreal e provoca calafrios. Kamala a convocar nomes grandes da música e do entretenimento é básico e pouco original. Um clássico.
Percebo o desconsolo dos americanos, quando dizem que não se identificam com nenhum dos candidatos e que vão votar no mal menor. O histórico bipartidarismo norte-americano, estimulado pelos grandes interesses económicos de ambos os lados, é redutor e afunila as possibilidades de escolha. Do ponto de vista democrático e da apresentação de alternativas, é um cenário muito pouco atractivo.
Em condições normais, quando se confrontam pessoas civilizadas, de substancial é pouco os que os separa, nomeadamente, na política externa. Porém, ao dar-se o caso de os oponentes serem antagónicos na postura, nos métodos e na forma de estar, as clivagens acentuam-se e vêm ao de cima as diferenças.
Acontece que Biden claudicou muito cedo, foi às cordas ainda antes do combate, mostrou-se frágil, provocando o pânico nas hostes democratas e alterando o calendário estipulado. A práxis política impôs-se e sacrificou-o, sem dó nem piedade. Assustados com a previsível derrota, os democratas desviaram-no de um percurso que ele teimosamente queria e sacudiram-no como se fosse peçonha. Sem, contudo, evitarem que ele se espalhasse em outra gaffe monumental: igualar os eleitores de Trump a lixo. Tivessem os republicanos adivinhado que o adversário seria outro, e certamente que também teriam feito uma escolha diferente.
E aqui chegados, saiu-lhes Kamala Harris, no boletim de jogo. A apagada vice-presidente, escolhida à pressa, partiu atrasada, recuperou a desvantagem, o que animou os seus correligionários e sossegou as chancelarias mais alinhadas com os valores do mundo ocidental. Mas a senhora não euforiza, agrada, mas não entusiasma, conquista, mas não arrebata. Não descola, apesar do tão mau que Trump é. E há uma razão. Kamala é simpática, tem um sorriso magnífico, um corpo e um busto que, para a sua idade, não estão nada mal, são quase perfeitos, produtos, certamente, de muito ginásio. Um palminho de cara bem apreciável. Tem uma cinturinha de vespa, e é elegante. Nada de desperdiçar. Veste “jeans”, bem cingidas às pernas altas, que dão conforto e despertador aos olhos de quem a vê. Tem “speed”. E de “bikini” ainda faz virar a cabeça a muitos banhistas, no risco de um inconveniente torcicolo. Sem favores.
Mas, falando sério, para além de uma excelente imagem e de um sorriso bonito, que mais ela ofereceu àquela parte do mundo que quer dormir mais descansada? Eu, francamente, ainda não ouvi. Rechaça e sorri, contra-ataca e ri. Aos costumes, diz nada, coisa nenhuma. Ainda assim, e porque continuo a acreditar que a democracia vale a pena, votaria em Kamala. Que mais não seja, pelos bons sonhos.
(Cartoon DR)