O Lobo de Wall Street
Não sou cinéfilo, mas, de vez em quando, lá vou assistir a um filme no “grande ecrã”, sem pipocas, sem chocolates e sem refrigerantes, a “dieta” a isso obriga! Não tem o mesmo “sabor”, mas ajuda a concentrar-me no principal motivo da aquisição do bilhete: o argumento! Decidi ir ver o último trabalho de Martin […]
Não sou cinéfilo, mas, de vez em quando, lá vou assistir a um filme no “grande ecrã”, sem pipocas, sem chocolates e sem refrigerantes, a “dieta” a isso obriga! Não tem o mesmo “sabor”, mas ajuda a concentrar-me no principal motivo da aquisição do bilhete: o argumento!
Decidi ir ver o último trabalho de Martin Scorsese “O Lobo de Wall Street“ (Título original: The Wolf of Wall Street) que tem como protagonista Leonardo DiCaprio, na “pele” do corretor Jordan Belfort, um “self mad man” dos pequenos negócios, que acabaría por enriquecer à margem das grandes companhias de Wall Street.
A ascensão do protagonista sustentou-se em princípios como: “O dinheiro torna-nos pessoas melhores”; “Não há qualquer nobreza na pobreza”; “Resolvam os vossos problemas, tornando-se ricos”… A ficção parece confundir-se com a realidade dos nossos dias: mercados, agências de rating, especulação, capitalismo selvagem…
DiCaprio, de quem não sou grande admirador, tem um excelente desempenho e coloca a “nu” o poder do dinheiro e as transformações que causa nas pessoas, evidenciando ou adulterando identidades. Os excessos sucedem-se a um ritmo alucinante: consumo de drogas, sexo, prostituição, orgias, dinheiro e mais dinheiro! Os vícios são em catadupa, em roda livre, uma espécie de roleta russa. Impera a anormalidade alimentada pelos milhões e o consumo de drogas! Vive-se a “1000 km/h”, sem barreiras e com laivos de endeusamento e invencibilidade, encarnando “Mamon” de fato e gravata.
A especulação financeira, bem retratada no filme, talvez possa ajudar a explicar a crise que vivemos, bem patente no escasso número de espectadores presentes na sala de cinema…
A cultura tem vindo a sofrer duros golpes e luta pela sobrevivência, agonizando a cada dia que passa. Algumas salas de cinema viram-se obrigadas a encerrar as suas portas em 2013. A atual situação, a manter-se, levará à multiplicação deste fenómeno. Ir ao cinema tornou-se inacessível, quase proibitivo, para muitos portugueses. A inacessibilidade da cultura empobrecerá ainda mais o nosso país. Um povo sem cultura não tem futuro! (“Orçamento para a Cultura em 2014 terá menos 15 milhões de euros”, Público, 07/11/2013).
“Que se lixem os investidores, que se lixem os outros, o importante são as nossas comissões!”.
A escolha do caminho mais fácil é uma constante, ao longo do filme, não se olhando aos meios para atingir os fins desejados: milhões e milhões, poder e prestígio.
Como me diz constantemente um amigo de longa data, com o qual concordo, “o caminho mais curto nem sempre é o melhor.”
A lição a retirar de 180 minutos de ação, adrenalina, loucura, dólares e mais dólares, drogas e mais drogas, carros, barcos e mansões, é que quem joga à roleta russa, arrisca-se a perder. A viagem de ida para o paraíso pode ser saborosa e vertiginosa, mas a de regresso ao inferno é muitíssimo dolorosa. Conduzir um Ferrari deve ser muito excitante, mas se nunca o conduzir não passará de um pensamento. Ter um Ferrari, uma mansão, dinheiro, poder, protagonismo e, de um momento para o outro, perder tudo, até a família (mulher e filhos) será uma experiência de tal ordem que poderá funcionar como um KO até para um dreamer!
Se o sonho comanda a vida, os valores devem orientá-la!