“Degradar a dignidade da palavra humana reduzindo-a ao nível do uivo dos lobos.”
G. Steiner, “O milagre oco” (ensaio)
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança
Tomando sempre novas qualidades.”
L. de Camões, “Sonetos”
“Todo o mundo é composto de mudança“. Só os néscios o ignoram. E aqueles que não gostam da mudança, são aversos à evolução.
Porém, a evolução, hoje, faz-se a uma velocidade estonteante, mal permitindo que assimilemos adequadamente algo que de novo surge, perante a rapidez da sua inevitável desactualização.
Nestes tempos, estar desactualizado é fatal. Se os profissionais das mais diversas áreas o têm presente, mais presente o têm os políticos. E um dos instrumentos que eles mais utilizam, a linguagem, é alvo de uma mudança radical.
Esta capacidade de alteração do signo – aquilo que significa – ao significado oportuno, concede um carácter regressivo e de abjecção à linguagem, porque a afasta do seu valor primicial e moral da partilha pura de ideias, conceitos, sentimentos…
Hoje, os políticos, nomeadamente à frente de um microfone e de uma câmara de filmar, preocupam-se pouco com a limpidez duradoura da verdade da mensagem para erigirem as palavras que usam no seu discurso às exigências momentâneas. Mesmo que sejam, apenas, cínicas e oportunistas “inverdades”.
Quando, a título de mero e passado exemplo (1) , um antigo primeiro-ministro, em directo, para microfones, câmaras e fiéis ululantes, acusou os jornalistas e comentadores de serem “pateticamente preguiçosos“, evidenciou, com inequívoca clareza, a ideia da função que deles tem e da sua utilidade: câmaras de eco glorificadoras e propagandísticas das suas mentiras, ao sabor dos ventos quotidianos e das suas causas. Que o mesmo é dizer: jornalistas e comentadores são importantes, mas de espinha caída, cangote no cachaço, subserviência ao poder e correia de transmissão da publicidade governamental.
Contudo, há excepções que só têm uma verdade: a dos factos. E como os factos fluem frequentemente em contra-maré de muitas lesivas políticas de muitos reles politiqueiros, estes não mudam a mensagem (porque ela é abominável) tentam apenas matar os mensageiros.